Durante entrevista à Rádio CBN, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União-MT), sugeriu a instalação de câmeras para monitorar políticos e membros do Judiciário, defendendo maior transparência entre agentes públicos. A proposta, que comparou a vigilância de policiais à de juízes e desembargadores, gerou controvérsia e indignação no Tribunal de Justiça do Estado.
Declarações sobre a instalação de câmeras no Judiciário
O governador Mauro Mendes abordou a instalação de câmeras inicialmente ao comentar o uso do dispositivo por policiais. Ele afirmou que, se é necessário monitorar as forças de segurança para evitar desvios de conduta, a mesma lógica deveria ser aplicada a outros agentes públicos, incluindo magistrados.
“Se nós vamos botar câmeras porque um ou dois policiais cometem erros, vamos colocar câmeras em todos os servidores públicos, para vigiar todo mundo”, declarou Mendes, enfatizando que a transparência deve ser um princípio universal.
Escândalos envolvendo o Judiciário motivam críticas
Mendes também fez referência a um caso de corrupção que envolveu a venda de sentenças judiciais em Mato Grosso, resultando no afastamento de desembargadores. Segundo o governador, episódios como esse reforçam a necessidade de monitoramento constante para evitar desvios de conduta.
“Tem juiz que vende sentença. Foi flagrado vendendo sentença, desembargador vendendo sentença. Vamos botar câmeras em todos os juízes e desembargadores também”, disse o governador, destacando a gravidade das acusações que recaíram sobre o Judiciário estadual.
Além disso, Mendes citou os altos salários de desembargadores no estado, que, em alguns casos, ultrapassam o teto constitucional, como mais um ponto que merece atenção.
As declarações de Mauro Mendes não passaram despercebidas pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT). Em nota oficial, o presidente do órgão, José Zuquim Nogueira, considerou a fala do governador um ataque à integridade do Judiciário.
“Não se pode admitir que o chefe do Poder Executivo, em uma entrevista pública, coloque em dúvida a honra e a honestidade de todos os membros do Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso, como ocorrido”, afirmou Zuquim.
A polêmica ocorre em um contexto de controvérsia envolvendo benefícios concedidos aos magistrados. Um exemplo recente foi o pagamento de um “vale-peru” de R$ 10 mil a magistrados e servidores em dezembro. A desembargadora Clarice Claudino da Silva, que autorizou o benefício e possui rendimentos líquidos de R$ 130 mil por mês, não se manifestou sobre o caso.
A Associação Mato-Grossense de Magistrados (AMAM) também reagiu às declarações de Mendes, acusando o governador de insinuar condutas incompatíveis com a honra das funções judiciais. A entidade informou que tomará medidas judiciais para preservar a imagem do Judiciário e evitar deslegitimações.
“A tentativa de deslegitimar uma instituição fundamental como o Judiciário é um ataque ao pilar da democracia”, declarou a AMAM em comunicado.
Mendes justificou sua ideia ao mencionar o uso de câmeras nas fardas de policiais, prática que visa coibir abusos e preservar a segurança de todos os envolvidos.
Segundo o governador, a aplicação dessa medida em outros setores poderia aumentar a confiança da população nos órgãos públicos. Contudo, os críticos apontam que a generalização do monitoramento pode ser interpretada como uma afronta à autonomia de instituições como o Judiciário.