Vivemos tempos estranhos. Parte da sociedade parece estar adoecida, mergulhada em um delírio coletivo que distorce a realidade e corrói o senso de humanidade. As alucinações não são apenas visões ou vozes, mas ideias fabricadas pela conveniência do egoísmo, pela cegueira do interesse próprio, pela recusa em enxergar o outro como um igual.
A intolerância virou virtude para muitos. Quem pensa diferente é inimigo, quem sofre é visto como fraco, e quem estende a mão é tratado como ingênuo. A empatia está sendo sufocada pela frieza dos cálculos individuais, onde só importa o que traz vantagem imediata.
Essa doença social se manifesta em pequenos gestos cotidianos, em comentários cruéis disfarçados de “sinceridade”, na indiferença diante da dor alheia, no prazer em julgar sem compreender. Aos poucos, a insensibilidade vai se tornando normal, como se o mundo tivesse perdido a capacidade de se comover.
Mas não se trata apenas de uma crise moral. É uma falência emocional. Um esvaziamento da alma coletiva que nos desumaniza. O que resta de uma sociedade onde a compaixão é ridicularizada, o diálogo é evitado, e a solidariedade é vista como fraqueza?
É hora de parar. Refletir. Recuperar o essencial. Porque sem sensibilidade, não há civilização. E sem humanidade, restará apenas o caos mascarado de progresso.
*Haroldo Arruda Junior é professor Doutor em Filosofia e Analista Político.