Um documento obtido por meio do Ato de Liberdade à Informação revelou que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) financiou os estudos de Anwar al-Awlaki, figura central da Al-Qaeda. Essa informação lança luz sobre possíveis falhas em programas de ajuda estrangeira norte-americanos e suas consequências inesperadas.
Quem foi Anwar al-Awlaki?
Anwar al-Awlaki, nascido no Novo México, nos Estados Unidos, era filho de imigrantes iemenitas e teve uma vida marcada por contradições. Durante sua infância, mudou-se para Sanaa, no Iêmen, antes de retornar aos EUA na década de 1990 para cursar Engenharia na Universidade do Estado do Colorado. Foi nesse período que ele se beneficiou de uma bolsa financiada pela Usaid, sob a alegação falsa de ser um cidadão do Iêmen.
Documentos indicam que Awlaki fraudou seus dados para obter a bolsa, declarando uma origem falsa e mascarando sua real condição de cidadão americano. Entre 1990 e 1991, enquanto estava nos Estados Unidos com visto de estudante, o custo anual de um curso para estrangeiros em universidades públicas norte-americanas variava entre US$ 6 mil e US$ 12 mil, valor coberto pelo financiamento da Usaid.
Durante sua estadia nos Estados Unidos, Anwar al-Awlaki começou a se aproximar de radicais islâmicos. Tornou-se um clérigo influente, conhecido por seus sermões em mesquitas, que atraíam audiências significativas. Investigações posteriores sugerem que seus discursos foram ouvidos pelos sequestradores envolvidos nos ataques de 11 de setembro de 2001.
Em 2004, três anos após os atentados, Awlaki retornou ao Iêmen, onde assumiu um cargo na Universidade al-Iman, conhecida por suas ligações com o fundamentalismo sunita. Como orador carismático, ele utilizou sua posição para recrutar novos membros para a Al-Qaeda, consolidando sua influência na organização terrorista.
Apesar de seu crescente envolvimento com atividades extremistas, Awlaki conseguiu escapar da captura por vários anos devido à influência política de sua família no Iêmen. Seu pai, Nasser al-Awlaki, era um membro proeminente do partido governante e tinha fortes laços com autoridades locais, o que dificultou a colaboração entre os governos dos Estados Unidos e do Iêmen.
Em 2011, Anwar al-Awlaki tornou-se o primeiro cidadão norte-americano a ser alvo direto de uma operação militar dos Estados Unidos. Ele foi morto em um ataque de drone conduzido pela CIA, uma ação que gerou debates sobre a legalidade de eliminar um cidadão americano sem julgamento.
A Ligação da USAID com o Extremismo
A revelação de que a Usaid financiou os estudos de Anwar al-Awlaki expõe lacunas significativas nos processos de concessão de bolsas de estudo para estudantes internacionais. Embora não houvesse à época indícios de sua ligação com a Al-Qaeda, a situação levantou questionamentos sobre como os fundos de ajuda estrangeira são administrados e monitorados.
A administração do ex-presidente Donald Trump utilizou casos como este para justificar cortes no financiamento da Usaid. Trump argumentou que a agência estava desperdiçando dinheiro dos contribuintes em projetos que poderiam gerar consequências contrárias aos interesses dos Estados Unidos. Além disso, o caso evidenciou os riscos de negligência na verificação de informações fornecidas por candidatos a programas de ajuda.
O caso de Anwar al-Awlaki também destacou preocupações mais amplas sobre a forma como as políticas dos Estados Unidos podem, inadvertidamente, contribuir para ameaças que buscam combater.
A situação evidenciou a necessidade de reformas nos programas de ajuda estrangeira para garantir que os recursos sejam destinados a projetos alinhados com os objetivos de segurança nacional.
Desde então, a Usaid e outras agências governamentais implementaram medidas mais rigorosas de monitoramento e avaliação de candidatos, buscando evitar fraudes semelhantes. No entanto, o caso de Awlaki continua sendo um exemplo de como falhas em sistemas de controle podem ter repercussões globais.