Uma alteração no sistema da rede X permitiu que usuários brasileiros voltassem a acessar a plataforma nesta quarta-feira, mesmo com a ordem de bloqueio imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O X, antigo Twitter, de propriedade de Elon Musk, adotou uma estratégia tecnológica para mascarar seus servidores, dificultando a ação dos provedores de internet que executam a restrição.
Uso de tecnologia para contornar bloqueios na rede X
A rede X implementou uma tecnologia que tem dificultado o cumprimento da ordem judicial que determina o bloqueio da plataforma no Brasil. O sistema utilizado funciona como uma barreira de proteção para os servidores da rede X, tornando mais complexo para os provedores de internet restringirem o acesso à rede.
A empresa contratada para fornecer esse serviço foi a Cloudflare, que atua globalmente com 23 milhões de sites, incluindo importantes instituições brasileiras, como bancos.
Segundo a Associação Brasileira dos Provedores de Internet e Telecomunicações (ABRINT), a estratégia usada pela rede X envolve uma alteração no software que gerencia o tráfego de dados, distribuindo-o por diferentes rotas e mascarando os IPs da plataforma original.
O conselheiro da ABRINT, Basílio Rodríguez Perez, explicou que o novo sistema adotado pela rede X impede que os provedores de internet identifiquem facilmente os IPs da plataforma.
— A rede X está agora operando com IPs da Cloudflare, o que torna o bloqueio muito mais complicado. Essa mudança dificulta significativamente a aplicação da restrição ordenada pela justiça — afirmou Perez.
Desafios para os provedores de internet
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é a responsável por fiscalizar o cumprimento da ordem judicial de bloqueio da rede X, porém, a tarefa de executar essa restrição recai sobre cada provedor de internet no Brasil.
Com mais de 11 mil provedores de banda larga em operação no país, a implementação dessa restrição depende de uma coordenação efetiva entre os provedores e a Anatel.
Desde que a rede X alterou seu sistema, os provedores têm enfrentado dificuldades em bloquear o acesso à plataforma. O principal desafio se dá pelo fato de que os IPs da Cloudflare, usados pela rede X, são compartilhados por inúmeros outros serviços legítimos. Bloquear esses IPs indiscriminadamente pode resultar na interrupção de serviços cruciais para empresas e usuários comuns.
Basílio Rodríguez Perez reiterou que bloquear a Cloudflare, sem causar impactos em outros serviços, é uma tarefa “quase impossível”. A empresa americana oferece proteção a uma vasta gama de serviços online, o que inclui grandes corporações e instituições que dependem desse sistema para manter suas operações seguras.
O uso de proxy reverso como solução
Um dos mecanismos tecnológicos utilizados pela Cloudflare, e adotado pela rede X, é o proxy reverso. Esse sistema atua como uma espécie de intermediário entre o servidor de um site e seus usuários. De acordo com Pedro Diógenes, diretor técnico da empresa CLM para a América Latina, o proxy reverso permite que o servidor real do site permaneça oculto, exibindo apenas o IP do servidor proxy.
— O proxy reverso é uma ferramenta legítima, amplamente utilizada para proteger servidores contra ataques cibernéticos. Ele não só oferece uma camada extra de segurança, como também ajuda a otimizar a velocidade de acesso ao site — explicou Diógenes.
Ao mascarar o IP real dos servidores da rede X, a Cloudflare impede que os provedores de internet bloqueiem diretamente o endereço da plataforma. Esse mecanismo, segundo Diógenes, é comum em grandes companhias que precisam proteger seus sistemas de ataques diretos, e seu uso não afeta a experiência do usuário final, que continua a acessar o site normalmente.
A Anatel informou que está ciente dos relatos e que está trabalhando para verificar se houve alguma falha na execução da ordem judicial. Até o momento, a agência não emitiu um parecer oficial sobre a necessidade de ajustes na restrição da rede X.