O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a usar dados controversos ao discursar na abertura da Cúpula do G20, realizada no Rio de Janeiro. Durante o evento, Lula declarou ter “acabado com a fome” no Brasil em 2014 e afirmou que o país voltou a enfrentar uma grave crise alimentar ao retomar o mandato em 2023, citando 33 milhões de pessoas em situação de fome extrema. Nas redes sociais, na hashtag #Lula Mente, usuários levantaram questionamentos, gerando o debate sobre a precisão dos dados apresentados.
Lula mente? O que os dados reais dizem?
Em sua fala, Lula afirmou que o Brasil havia deixado o Mapa da Fome da FAO em 2014, mas retornado em 2022 devido à “desarticulação do estado de bem-estar social.” Além disso, destacou que os programas sociais implementados desde o início de sua gestão teriam retirado 24,5 milhões de pessoas da extrema pobreza em menos de dois anos. Lula garantiu ainda que o país deixará o Mapa da Fome novamente até 2026.
Vídeo reprodução: G20 Oficial.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), entretanto, não utiliza mais o conceito de Mapa da Fome para relatar a insegurança alimentar. Em vez disso, adota outros métodos para mensurar o problema, o que coloca as declarações do presidente em xeque quanto à fidelidade dos dados.
As informações apresentadas pelo presidente têm como base o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, divulgado em 2022 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Pessan).
O relatório indica um aumento na insegurança alimentar, mas não estabelece diretamente que 33 milhões de pessoas estavam famintas. O uso reiterado desses números, no entanto, tem gerado controvérsias, especialmente entre especialistas que apontam diferenças entre os dados da pesquisa e os relatados por Lula.
Entre 2021 e 2023, cerca de 8,4 milhões de pessoas no Brasil enfrentaram a fome, segundo um levantamento realizado por cinco agências das Nações Unidas (ONU). O estudo ainda apontou que, nesse mesmo período, 39,7 milhões de brasileiros vivenciaram algum grau de insegurança alimentar, sendo que 14,3 milhões encontravam-se em situação de extrema gravidade.
Não é a primeira vez que Lula utiliza esses dados de maneira questionável. No mês passado, durante um encontro com Bill Gates, fundador da Microsoft, o presidente fez declarações semelhantes, suscitando questionamentos sobre a origem e a precisão das informações. A repetição dessas falas em eventos internacionais, como o G20, ampliou as críticas.