Os preços dos medicamentos sofreram um aumento significativo em 2024, com altas que chegaram a 360%, de acordo com levantamento da CliqueFarma/Afya. Essa disparada reflete desafios econômicos, logísticos e regulatórios, impactando diretamente a população que depende desses produtos para tratamentos essenciais.
Recorde de inflação nos preços dos medicamentos
Entre os medicamentos analisados, o rivaroxabana, utilizado na prevenção e tratamento de tromboses, liderou com uma alta de 359%. Em seguida, a prednisolona, corticosteroide indicado para inflamações e doenças autoimunes, apresentou um aumento de 340%. Outro destaque foi a tadalafila, utilizada no tratamento da disfunção erétil, que subiu 328%. Esses reajustes são expressivos e chamam atenção para os desafios enfrentados pelo setor farmacêutico.
A alta nos preços dos medicamentos foi impulsionada por uma combinação de fatores econômicos e logísticos. Entre os principais motivos, destacam-se:
Inflação e câmbio: A desvalorização da moeda e o aumento nos custos de produção contribuíram para a elevação dos preços.
Cadeia de suprimentos: Problemas na logística global afetaram a distribuição e o acesso aos insumos necessários para a fabricação de medicamentos.
Alta demanda: Produtos essenciais para condições críticas apresentaram pouca concorrência, o que também influenciou os preços finais.
Segundo a CliqueFarma/Afya, medicamentos para condições graves são particularmente suscetíveis às variações de custo, pois a demanda constante e a urgência de tratamento deixam os pacientes vulneráveis aos reajustes.
A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) autorizou em 2024 um reajuste de até 4,5% nos preços, considerando indicadores como inflação, produtividade industrial, variação cambial e tarifas de energia elétrica. Apesar disso, os aumentos registrados em alguns medicamentos ultrapassaram amplamente o índice permitido, destacando a pressão de fatores externos sobre os preços regulados. Essa discrepância entre o que é permitido pela regulação e os valores praticados no mercado reforça os desafios para manter o controle no setor farmacêutico.
Acesso a Medicamentos pelo SUS
Além dos aumentos de preço, há também um problema significativo relacionado à distribuição de medicamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Uma análise recente revelou que, desde 2018, 76 medicamentos e procedimentos aprovados para incorporação não foram disponibilizados. Entre eles, está a insulina análoga de longa ação, essencial para pacientes com diabetes tipo 1, que deveria estar disponível desde 2019, mas permanece inacessível mais de dois mil dias após a sua aprovação.
Dos 76 itens pendentes, 64 ultrapassaram o prazo legal de 180 dias para distribuição. Isso inclui medicamentos para o tratamento de câncer, diabetes, hepatites e doenças ginecológicas, além de exames e implantes. O problema atravessa gestões e segue sem solução definitiva, mesmo sob a liderança da atual ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Impactos para os Pacientes
Esses desafios afetam diretamente os pacientes que dependem do acesso público ou privado aos medicamentos. A alta dos preços limita o acesso da população de baixa renda a tratamentos essenciais, enquanto a falta de distribuição pelo SUS compromete a saúde de milhões de brasileiros.
A combinação de fatores econômicos, logísticos e regulatórios coloca em xeque a eficácia das políticas públicas de saúde e a capacidade de resposta do setor farmacêutico.