O preço da carne no Brasil continua em alta, impulsionado por uma forte demanda doméstica e exportações crescentes, mesmo diante dos desafios impostos pela seca. A pecuária nacional, responsável por um recorde de produção, enfrenta impactos que pressionam ainda mais os custos para o consumidor e, a previsão, é novos reajustes a partir de janeiro de 2025.
Alta contínua no preço da carne
A produção de carne bovina no Brasil deve atingir 10,2 milhões de toneladas neste ano, um recorde histórico. Contudo, mesmo com a alta oferta, o preço da carne não demonstra sinais de queda. Isso se deve, em grande parte, à mudança no ciclo pecuário e aos efeitos da estiagem que afetaram as pastagens em diversas regiões do país.
A seca prolongada foi apontada como um dos fatores que intensificaram a inflação de curto prazo. Na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), essa questão foi mencionada como justificativa para a elevação da taxa Selic, que subiu de 11,25% para 12,25% ao ano.
O aumento no preço da carne também foi destaque no Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central, publicado recentemente. O documento revelou que, embora o mercado já esperasse uma redução na oferta de animais para abate devido ao ciclo pecuário, a alta dos preços ocorreu de forma mais intensa e antecipada do que o previsto.
Segundo o relatório, a carne bovina teve uma alta acumulada de 15,43% nos últimos 12 meses até novembro, enquanto a inflação geral do período foi de 4,87%. Essa diferença evidencia o impacto significativo do setor no bolso do consumidor.
Exportações e demanda doméstica elevadas
O mercado interno enfrenta pressões adicionais devido à forte demanda doméstica, que coincidiu com exportações mais agressivas, principalmente para mercados como o chinês. Essa dinâmica tem contribuído para manter os preços da carne em patamares elevados, mesmo com ganhos de produtividade da pecuária brasileira.
A adoção de tecnologias e o padrão “Boi China” têm permitido que os animais sejam abatidos mais jovens e pesados, atendendo às exigências do mercado internacional. No entanto, esses avanços não foram suficientes para conter os impactos da alta demanda e da estiagem.
Evolução da Arroba do Boi Gordo
Nos últimos meses, a cotação da arroba do boi gordo apresentou uma escalada considerável. De R$ 180 há um semestre, os preços atingiram picos de R$ 350, estabilizando-se acima de R$ 300. Essa valorização reflete não apenas os desafios internos, mas também a competitividade do Brasil no mercado global de carne bovina.
Para o pesquisador Thiago Bernardino, da Universidade de São Paulo, a volatilidade no preço da carne nos últimos meses é sem precedentes. Ele destacou que nunca se observou uma oscilação tão rápida em tão curto período. Essa gangorra de preços impõe desafios tanto para produtores quanto para consumidores, que enfrentam o peso da alta nos custos de produção e no consumo.