O governo de Portugal iniciou o processo de notificação de 5.386 brasileiros que deverão deixar o país. Eles fazem parte de um grupo maior, composto por 33.983 imigrantes, que tiveram seus pedidos de autorização de residência recusados. A decisão está alinhada com a nova política migratória adotada pelo país, marcada por regras mais rígidas e maior controle nas fronteiras.
Apesar da taxa de rejeição entre brasileiros ser de 7,3%, relativamente baixa em comparação aos 46,6% dos indianos, o volume de pessoas impactadas é significativo e levanta preocupações dentro da comunidade brasileira em Portugal.
O governo português afirma que o objetivo das novas medidas é garantir que apenas permaneçam no país aqueles que cumprem rigorosamente os critérios legais, como vínculo empregatício, matrícula em instituições de ensino ou capacidade financeira comprovada.
Brasileiros enfrentam novas barreiras na permanência em Portugal
De acordo com Maurício Gonçalves, advogado especializado em Direito Internacional com foco na imigração para Portugal, os principais motivos para as recusas estão relacionados ao não cumprimento das exigências legais.
“Para obter autorização de residência em Portugal, é necessário apresentar documentos que comprovem renda, contrato de trabalho ou outros meios de subsistência. A maioria dos pedidos negados não atendia a esses critérios”, explica o especialista.
Até junho de 2024, muitos brasileiros utilizavam o mecanismo conhecido como “manifestação de interesse”, que permitia a regularização mesmo sem visto específico. Entretanto, esse procedimento foi extinto, tornando o processo migratório mais rigoroso e exigente.
Novo cenário político influencia nas decisões
O endurecimento das regras coincide com a ascensão de grupos conservadores e de direita em Portugal. Segundo Marçal de Menezes, professor da PUCRS e especialista em história portuguesa, o movimento reflete uma mudança no cenário político local.
O partido Chega, conhecido por seu discurso populista e contrário à imigração, ganhou força nas últimas eleições. A legenda tem responsabilizado os imigrantes por desafios econômicos, como o aumento no custo da moradia e a sobrecarga nos serviços públicos, uma narrativa que também é observada em países como França, Itália e Estados Unidos.
Embora os brasileiros, em razão da língua e dos laços históricos com Portugal, tenham uma inserção social mais facilitada, eles não estão imunes aos efeitos das novas políticas e aos casos de preconceito.
O que acontece após a notificação?
As autoridades portuguesas informaram que os imigrantes notificados terão 20 dias para deixar o país voluntariamente. Caso o prazo não seja cumprido, haverá possibilidade de deportação. No entanto, os afetados podem recorrer judicialmente da decisão.
O advogado Maurício Gonçalves alerta para os riscos de golpes nesse momento delicado. “Muitos brasileiros acabam sendo enganados por falsos advogados que prometem soluções rápidas e baratas. É fundamental buscar profissionais qualificados e verificar seus históricos antes de contratar qualquer serviço”, ressalta.
Apesar da rigidez das novas regras, especialistas destacam que a recusa de um pedido de residência não é, necessariamente, uma punição. Trata-se de um procedimento administrativo, aplicado quando os requisitos legais não são cumpridos.