A Câmara dos Deputados deve votar, nos próximos dias, um projeto de lei que equipara o feticídio realizado após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) é o autor da proposta, que tem alta chance de ser aprovada pelos parlamentares. O projeto, conhecido como PL 1904/2024, tem gerado intenso debate e pode trazer mudanças significativas para o Código Penal brasileiro, principalmente no que se refere à prática do aborto.
Contexto e prazos de votação da PL 1904/2024
É provável que um requerimento de urgência seja pautado e aprovado ainda nesta semana, com a votação da matéria ocorrendo no Plenário na próxima semana. A definição do cronograma depende da reunião de líderes que acontece na tarde desta terça-feira (11). A expectativa é alta entre os parlamentares, e muitos acreditam que o projeto será aprovado com uma margem expressiva de votos favoráveis.
Se aprovado, o PL 1904/2024 alterará o Código Penal brasileiro (CPB), impondo penas mais severas para quem realizar abortos após a 22ª semana de gestação. As penas seriam equiparadas às do homicídio simples, podendo chegar a 20 anos de detenção.
O texto do projeto permite que o juiz mitigue a pena conforme as circunstâncias individuais de cada caso ou, em situações extremas, deixe de aplicá-la se as consequências da infração afetarem gravemente o próprio agente.
O Debate sobre o aborto no Brasil
Atualmente, o aborto é considerado crime no Brasil, exceto em casos de estupro, anencefalia ou risco de vida para a mãe. No entanto, o limite para a prática de aborto, de acordo com o tempo de gestação, tem sido alvo de controvérsia nos últimos meses.
Recentemente, o ministro Alexandre de Moraes emitiu uma liminar barrando uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que proibia a assistolia fetal, procedimento usado para interromper a gestação após a 22ª semana. Essa prática, considerada cruel e dolorosa, é um ponto central no debate sobre os direitos reprodutivos e a proteção do feto.
Entre a 22ª e a 27ª semana de gestação, o feto já apresenta características significativas de desenvolvimento, como cabelos visíveis, impressão digital e capacidade de responder a sons familiares, como a voz da mãe.
Com 30 semanas, todos os órgãos do bebê já estão formados, ele possui paladar desenvolvido, consegue abrir e fechar os olhos e pode ouvir os batimentos cardíacos da mãe. Esses avanços no desenvolvimento fetal aumentam a complexidade do debate sobre o aborto, especialmente em estágios mais avançados da gestação.
Pressão política e decisões judiciais
A decisão do ministro Alexandre de Moraes, permitindo a interrupção da gestação em casos de estupro até o último dia da gravidez, causou reações variadas. Críticos argumentam que a decisão abre precedentes para a realização de abortos em qualquer etapa da gestação, com controle insuficiente sobre as alegações de estupro.
Na prática, essa medida pode facilitar o acesso ao aborto, intensificando o debate sobre a necessidade de regulamentação mais rigorosa.
Nesta segunda-feira (10), o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha, afirmou que o governo gostaria que o presidente da Câmara, Arthur Lira, excluísse o PL 1904/2024 da pauta. O argumento é a necessidade de diminuir a beligerância no Congresso.
Entretanto, é improvável que essa pressão do governo surta efeito, já que a oposição na Câmara tem força suficiente para avançar a tramitação do projeto. A expectativa é que o debate continue acalorado, refletindo a polarização sobre o tema do aborto no Brasil.
Com a alta chance de aprovação, o PL 1904/2024 promete redefinir os limites legais e morais sobre a prática do aborto no Brasil, refletindo a complexidade e a sensibilidade desse tema na sociedade brasileira.