O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva liberou, em 2024, um total de R$ 7,7 bilhões em “emendas Pix”, sendo metade desse valor destinado antes das eleições municipais de outubro. A ausência de transparência na utilização desses recursos contorna a legislação eleitoral e decisões do Tribunal de Contas da União (TCU).
Emendas Pix: O que são e como funcionam
As emendas Pix foram criadas para permitir a transferência de recursos federais para Estados e municípios a pedido de senadores e deputados federais. A principal característica dessas emendas é a ausência de destinação específica antes da liberação dos recursos, dificultando a fiscalização e o uso adequado dos fundos. Esse modelo de repasse permite que os parlamentares preencham o Orçamento da União sem detalhar a utilização dos recursos, dando liberdade a prefeitos e governadores para decidir o destino das verbas.
Na quarta-feira, 26 de junho, o governo federal se comprometeu a repassar R$ 4,25 bilhões até o dia 5 de julho, conforme reportado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Esse valor pode aumentar, já que algumas emendas ainda não foram empenhadas. Até o momento, R$ 232,5 milhões foram destinados a cidades em situação de calamidade pública, como algumas localizadas no Rio Grande do Sul.
A legislação eleitoral proíbe a liberação de emendas três meses antes das eleições, exceto para obras já em andamento. No entanto, as emendas Pix driblam essa regra, permitindo gastos durante o período de campanha, algo que não ocorre com outros tipos de recursos. Esse modelo de emenda possibilita que os recursos sejam utilizados de maneira livre pelos gestores municipais e estaduais, aumentando a flexibilidade na aplicação dos fundos.
Exigências de Transparência do TCU
Em janeiro deste ano, o TCU exigiu maior transparência no processo de repasse das emendas Pix. A Corte determinou que os municípios informem, em uma plataforma pública, o destino do dinheiro em até 60 dias após o recebimento.
Embora o governo federal tenha regulamentado os repasses, as recomendações do TCU e da Lei de Diretrizes Orçamentárias não foram completamente atendidas. Autoridades nos bastidores afirmam que é impossível cumprir todas as exigências legais, destacando a falta de uma plataforma eficiente para processar e disponibilizar os documentos.
Desde janeiro, 906 emendas foram indicadas por 523 parlamentares, abrangendo 88% do Congresso Nacional. No entanto, metade dos recursos está concentrada em apenas 10% dos municípios brasileiros, beneficiando diretamente 554 cidades. Esse desequilíbrio na distribuição gera críticas sobre a justiça e a equidade no uso dos recursos públicos.
Uso irregular dos recursos
Após a declaração de inconstitucionalidade do orçamento secreto pelo Supremo Tribunal Federal, as emendas Pix cresceram em importância. Dos mais de 900 repasses realizados, apenas cinco contêm informações detalhadas sobre a utilização do dinheiro, que não são acessíveis publicamente. Em alguns casos, os recursos foram utilizados para financiar shows sertanejos, compras de asfalto e até brinquedos, ao invés de investimentos públicos essenciais.
Juliana Sakai, diretora-executiva da Transparência Brasil, afirmou que “as emendas Pix são piores que o orçamento secreto”, destacando que a falta de transparência e a possibilidade de uso livre dos recursos em ano eleitoral agravam a qualidade do gasto público. Esse cenário preocupa especialistas e a sociedade, que temem um uso inadequado dos recursos públicos em um momento crítico para o país.
A liberação de R$ 7,7 bilhões em emendas Pix pelo governo Lula, com metade do valor destinado antes das eleições municipais, levanta questões significativas sobre transparência e uso adequado dos recursos. A falta de fiscalização eficaz e o contorno das regras eleitorais aumentam a preocupação com a qualidade do gasto público e a justiça na distribuição dos fundos. É essencial que medidas sejam tomadas para garantir maior transparência e responsabilidade na utilização dessas verbas, assegurando que elas realmente atendam às necessidades da população.