Os bebês Reborn, bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos, têm ganhado destaque nas redes sociais e na vida de muitas pessoas. Enquanto para alguns são objetos de arte ou colecionáveis, para outros representam filhos, sendo cuidados com rotinas que incluem alimentação, troca de fraldas e até consultas médicas simuladas. Essa prática levanta questões sobre os limites entre fantasia e realidade e os possíveis impactos psicológicos envolvidos.
O que são os bebês Reborn?
Criados inicialmente nos Estados Unidos na década de 1990, os bebês Reborn são bonecos confeccionados artesanalmente com materiais como vinil e silicone, pintados à mão para reproduzir com precisão detalhes de um bebê real, incluindo veias, marcas de nascença e peso semelhante ao de um recém-nascido.
Alguns modelos possuem mecanismos que simulam respiração e batimentos cardíacos. No Brasil, a popularidade desses bonecos cresceu significativamente, com muitos adeptos compartilhando suas experiências nas redes sociais.
Uso terapêutico e simbólico
Especialistas apontam que, em determinados contextos, os bebês Reborn podem ter um valor terapêutico. A psicóloga Juliana Gebrim destaca que mulheres que enfrentaram perdas gestacionais, infertilidade ou solidão podem encontrar nos Reborn uma forma simbólica de elaborar o luto ou conectar-se com a experiência da maternidade.
Além disso, em casos de idosos com demência, os bonecos têm sido utilizados como recurso de estimulação afetiva e cognitiva.
A psicóloga Luciana também ressalta que, em situações delicadas, como o luto perinatal, os bebês Reborn podem atuar como objetos transicionais, auxiliando as pessoas a processarem sua dor de maneira simbólica. No entanto, ela enfatiza a importância de manter essa relação dentro de limites saudáveis e, quando necessário, buscar suporte profissional.
Quando o apego ultrapassa os limites
Embora o uso dos bebês Reborn possa ser benéfico em alguns casos, especialistas alertam para os riscos quando o apego se torna excessivo. A psicóloga Leticia de Oliveira afirma que tratar um boneco como um filho real pode indicar questões emocionais profundas, como carência afetiva significativa ou frustração existencial.
Ela destaca que esse comportamento pode revelar dificuldades na interação social, isolamento ou até depressão profunda.
O psiquiatra Marcelo Honda Yamamoto observa que, embora o ultrarrealismo dos bonecos facilite a conexão afetiva, é essencial avaliar o impacto desse hábito na vida da pessoa. Se o uso do bebê Reborn serve apenas como uma forma de conforto sem prejuízo a outras áreas, não há problema. Porém, se for uma fuga de um vazio emocional ou frustração que precisa ser enfrentada, é necessário cuidado.
A psicóloga Luciana também observa que, em casos de luto mais complexo ou traumas profundos, o acompanhamento psicológico é essencial. Ela destaca que a terapia pode ajudar a reestruturar pensamentos prejudiciais e evitar que a pessoa se prenda a fantasias que a afastam da realidade.
O papel das redes sociais
As redes sociais desempenham um papel significativo na popularização dos bebês Reborn. Plataformas como TikTok e Instagram estão repletas de vídeos e fotos de pessoas cuidando de seus bonecos como se fossem filhos reais, o que pode reforçar comportamentos de apego excessivo e dificultar a distinção entre realidade e fantasia.
O psiquiatra Marcelo Honda Yamamoto destaca que a prática é uma escolha individual, e que cada pessoa deve avaliar se essa experiência está trazendo bem-estar ou prejudicando seus relacionamentos, rotina e produtividade.
Os bebês Reborn representam um fenômeno complexo que envolve aspectos artísticos, terapêuticos e psicológicos. Enquanto para alguns são ferramentas simbólicas para lidar com perdas ou expressar afeto, para outros podem se tornar substitutos de relações humanas reais, indicando possíveis questões emocionais não resolvidas.
É fundamental que o uso desses bonecos seja acompanhado de autoconhecimento e, quando necessário, suporte profissional, para garantir que a fantasia não substitua a realidade e que a busca por conforto não se transforme em isolamento.