A Polícia Federal conduz uma investigação envolvendo o Banco Master por suspeitas de operações financeiras irregulares com precatórios, que podem ter inflado artificialmente os ativos da instituição. As apurações já contam com centenas de páginas e incluem denúncias de práticas atípicas no mercado financeiro.
Inquérito apura transações com precatórios de liquidez duvidosa
Desde março de 2024, a Polícia Federal mantém aberto um inquérito que investiga possíveis irregularidades cometidas pelo Banco Master, especialmente em transações que envolvem precatórios.
De acordo com documentos obtidos durante a apuração, um fundo de investimento vinculado ao próprio banco teria comprado esses títulos com alto grau de incerteza quanto à liquidez e, posteriormente, os revendido à própria instituição com uma valorização de 235% em relação ao valor original.
O objetivo da operação seria inflacionar os ativos contábeis do banco, elevando de forma artificial seu patrimônio registrado. A denúncia inicial partiu do fundo ESH Theta, que além da PF também levou as informações ao Banco Central.
Banco Central e Cade acompanham caso de perto
O Banco Central, após tomar ciência das denúncias, detectou operações fora do padrão envolvendo fundos de investimento em direitos creditórios administrados pelo Banco Master. Diferente do que é comum no mercado — onde precatórios são adquiridos com deságio —, a instituição teria comprado os mesmos títulos de seus próprios fundos com sobrevalorização expressiva.
Esse tipo de transação chamou atenção por sua estrutura que, segundo especialistas, caracteriza a prática conhecida no mercado como “Zé com Zé”, em que o mesmo grupo econômico negocia ativos entre si com o objetivo de inflar balanços.
Venda parcial do Banco Master ao BRB levanta novos questionamentos
A situação se agravou com o anúncio, em março de 2025, da intenção do Banco de Brasília (BRB) de adquirir 58% do Banco Master por R$ 2 bilhões. Apesar do investimento, a operação prevê que o controle acionário continue nas mãos dos atuais proprietários, o que tem levantado dúvidas sobre os reais motivos da transação.
Analistas interpretam a negociação como uma tentativa de resgate da instituição, que pode estar enfrentando sérios desafios de liquidez. A transação, no entanto, ainda depende da autorização do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para ser concluída.
Fundo Amazonita está no centro das investigações
Um dos episódios mais significativos da investigação envolve o fundo de investimentos em direitos creditórios Amazonita, que tem entre seus cotistas outro fundo ligado diretamente ao Banco Master. Em 2020, a instituição financeira adquiriu precatórios por R$ 320 milhões, que haviam sido comprados poucos dias antes pelo fundo Amazonita por apenas R$ 136,5 milhões — uma valorização de 235% em menos de uma semana.
Esse caso é citado como o principal exemplo de possíveis irregularidades contábeis. A forma como os ativos foram registrados e negociados levanta suspeitas de que o banco teria utilizado essas operações para apresentar uma situação financeira mais sólida do que a real.