A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) está avaliando mudanças polêmicas nas regras de mamografia para os planos de saúde. Entre as propostas, destaca-se o aumento da idade mínima para realização do exame, que passaria de 40 para 50 anos, além da alteração da periodicidade de anual para a cada dois anos. A medida tem gerado debates intensos, com críticas de sociedades médicas e especialistas na área da saúde.
Mamografia: Entenda as propostas da ANS
A proposta de modificação nas diretrizes de mamografia integra a Consulta Pública nº 144, que reúne mais de 300 páginas de recomendações para os planos de saúde. Caso aprovada, as mudanças alinharão as diretrizes das operadoras privadas ao que já é preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), seguindo as recomendações do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Na prática, as operadoras que implementarem as novas regras receberiam certificados de boas práticas pela ANS. Entretanto, entidades médicas alertam que as alterações podem comprometer a eficácia do rastreamento precoce do câncer de mama, prejudicando milhares de mulheres.
Dados reforçam a importância do Exame Precoce
De acordo com a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), 40% dos diagnósticos de câncer de mama no Brasil ocorrem antes dos 50 anos. Além disso, 22% das mortes relacionadas à doença estão na faixa etária que deixaria de receber cobertura com as novas diretrizes.
Estudos internacionais também apontam para o aumento de casos em mulheres mais jovens. Dados da American Cancer Society mostram que, nos Estados Unidos, a incidência de câncer de mama em mulheres com menos de 50 anos tem crescido 1,4% ao ano, acima da média geral. Para especialistas como o oncologista Daniel Gimenes, da Oncoclínicas, isso reforça a necessidade de exames regulares a partir dos 40 anos.
A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) é uma das entidades que se posicionaram contra a proposta da ANS. Em nota, a SBM classificou as mudanças como um retrocesso na prevenção ao câncer de mama.
Segundo o coordenador do Departamento de Imagem Mamária da SBM, Henrique Lima Couto, a proposta poderá levar à redução do acesso ao exame de mamografia digital pelas mulheres com planos de saúde. “Do jeito que está, as mulheres não poderão realizar o exame anualmente e ainda perderão o direito de iniciar a mamografia aos 40 anos”, destacou.
Além disso, a SBM aponta que a aplicação de protocolos que incluem mamografia anual a partir dos 40 anos tem resultado em uma redução significativa na mortalidade por câncer de mama. Esses protocolos permitem que 25% das mulheres diagnosticadas em estágios iniciais da doença sobrevivam por mais de dez anos.
Impactos para a saúde das Mulheres
Atualmente, a recomendação do SUS segue as diretrizes do Inca, que prevê mamografia para mulheres entre 50 e 69 anos, com intervalo de dois anos entre os exames. No entanto, especialistas argumentam que essa periodicidade não é suficiente para detectar precocemente os casos mais agressivos da doença.
A Femama e outras instituições reforçam que as mudanças podem aumentar o número de diagnósticos tardios, reduzindo as chances de tratamento eficaz. As entidades defendem que o exame anual a partir dos 40 anos deve continuar sendo a norma para garantir a detecção precoce, especialmente em casos de maior risco.