O Dia das Mães, celebrado no segundo domingo de maio no Brasil, é uma das datas mais emocionantes do calendário, marcada por homenagens e demonstrações de afeto. Contudo, nem sempre essa celebração teve o apelo comercial que conhecemos hoje. Criado por Anna Jarvis nos Estados Unidos, o feriado passou por uma transformação que causou indignação na própria idealizadora.
A criação do Dia das Mães e sua motivação
O Dia das Mães foi instituído oficialmente no início do século 20 por Anna Jarvis, uma ativista americana que desejava prestar tributo à memória de sua mãe, Ann Reeves Jarvis. A escolha pelo segundo domingo de maio não foi aleatória: essa data se aproxima do falecimento de sua mãe, ocorrido em 9 de maio de 1905.
Ann Jarvis foi uma mulher atuante durante a Guerra Civil dos Estados Unidos, organizando Clubes de Trabalho Materno para atender soldados feridos, independente do lado em que estavam. Inspirada por esse espírito de cuidado e união, Anna Jarvis enxergou a necessidade de criar um dia especial para exaltar o papel das mães na sociedade.
A iniciativa foi rapidamente ganhando força. Em 1910, o estado da Virgínia Ocidental reconheceu a data como feriado estadual. Quatro anos depois, o então presidente americano Woodrow Wilson declarou o Dia das Mães como um feriado nacional nos Estados Unidos. O gesto simbólico se espalhou por diversas nações, e hoje é celebrado em dezenas de países ao redor do mundo, ainda que em datas diferentes.
A transformação do significado original
Apesar do sucesso inicial, Anna Jarvis não ficou satisfeita com o rumo tomado pelo Dia das Mães. Com o passar dos anos, a celebração ganhou apelo comercial, sendo rapidamente abraçada por indústrias de flores, doces e cartões comemorativos, que viram na ocasião uma oportunidade de elevar suas vendas.
Essa virada comercial despertou a fúria de Anna. Para ela, a essência do feriado — a homenagem pura e emocional à figura materna — estava sendo deturpada em prol do consumo desenfreado. Ela chegou a declarar em entrevistas que seu feriado estava sendo “tomado por gananciosos”, como floristas e empresários do ramo de presentes.
A indignação de Anna Jarvis foi além das palavras. Ela iniciou uma verdadeira campanha contra a exploração comercial do Dia das Mães. Em 1920, passou a incentivar a população a boicotar o consumo de flores, chocolates e cartões durante a data.
Além disso, ficou revoltada com instituições de caridade que alegavam usar o Dia das Mães para arrecadar fundos destinados a mães carentes, mas que, segundo relatos históricos, desviavam a verba para outros fins. Anna sentia que sua criação estava sendo usada como fachada para interesses questionáveis.
Determinada a preservar a integridade de sua proposta original, ela chegou a registrar a frase “Segundo domingo de maio, Dia das Mães” (“Second Sunday in May, Mother’s Day”) e passou a monitorar o uso da data por diferentes instituições. Sua batalha incluiu pedidos formais e até mobilizações locais para revogar o feriado, como uma campanha de coleta de assinaturas em Filadélfia.
O legado de Anna Jarvis
Anna Jarvis jamais se casou ou teve filhos. Dedicou grande parte de sua vida à memória da mãe e à luta pela preservação do verdadeiro significado do Dia das Mães. Sua trajetória foi marcada por idealismo, decepção e perseverança.
Ela faleceu em 24 de novembro de 1948, aos 84 anos, em um sanatório da Pensilvânia, vítima de insuficiência cardíaca. Apesar das polêmicas e da batalha pessoal travada, seu legado permanece vivo. Hoje, o Dia das Mães é celebrado com amor em muitos lares, mesmo que com influências comerciais.