As contas do governo Lula, referentes ao exercício de 2024, foram aprovadas com ressalvas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em julgamento unânime. O relatório apresentado destacou pontos de atenção em relação a renúncias fiscais, projeções de gastos sociais e execução orçamentária, sinalizando desafios para a gestão federal no cumprimento das regras fiscais.
Contas do governo Lula são aprovadas com preocupações
O ministro Jhonatan de Jesus, relator do processo, apresentou um parecer que, apesar de recomendar a aprovação das contas do governo Lula, apontou uma série de ressalvas. Entre os principais pontos destacados está a concessão ou ampliação de benefícios tributários sem o devido cumprimento das normas legais. Segundo o TCU, essas renúncias de receitas precisam ser melhor fundamentadas e acompanhadas de estimativas adequadas sobre seus impactos fiscais.
Também foram identificadas impropriedades relacionadas à recuperação de créditos e apresentação de fontes de recursos com saldos negativos, o que, na avaliação do relator, compromete a transparência e o equilíbrio das contas públicas.
Gastos com o BPC e emendas parlamentares exigem maior detalhamento
O parecer também recomendou que as projeções do Benefício de Prestação Continuada (BPC) sejam revistas, com foco na melhoria da estimativa dos gastos futuros. O relator enfatizou a necessidade de maior clareza nas informações sobre as emendas parlamentares e os investimentos vinculados ao Regime Fiscal Sustentável.
De acordo com o relatório, a apresentação de dados mais detalhados contribuiria para uma avaliação mais precisa da sustentabilidade fiscal do país e garantiria maior controle sobre a execução orçamentária.
Restos a pagar atingem valor recorde
Outro ponto de atenção citado pelo TCU refere-se ao volume de restos a pagar acumulados. Em 2024, os compromissos não quitados e transferidos para 2025 somaram R$ 311 bilhões, o maior montante registrado nos últimos dez anos. Desse total, 68% referem-se a despesas não processadas, com crescimento real de 3,8% em relação ao ano anterior.
Segundo o ministro Jhonatan de Jesus, esse acúmulo de obrigações representa um risco para o equilíbrio fiscal e exige monitoramento constante por parte do governo.
Previdência consome mais de 40% das despesas primárias
As contas do governo Lula também chamaram atenção pelos elevados gastos com benefícios previdenciários, que totalizaram R$ 938 bilhões em 2024. Isso corresponde a 42,6% do total das despesas primárias da União no período. Apesar do peso nas finanças públicas, o déficit do sistema previdenciário registrou queda de 6,5% em relação a 2023, alcançando R$ 419 bilhões.
A divisão do déficit mostrou R$ 303 bilhões no Regime Geral da Previdência Social, R$ 56 bilhões no regime dos servidores civis da União, R$ 51 bilhões relacionados aos militares das Forças Armadas, e R$ 8 bilhões associados ao fundo constitucional do Distrito Federal e à previdência dos servidores vinculados a ex-territórios.
Papel do TCU na fiscalização das contas públicas
O Tribunal de Contas da União é responsável por emitir anualmente um parecer técnico-jurídico sobre as contas do presidente da República. O processo inclui a análise de indicadores como metas fiscais, endividamento, investimentos obrigatórios em saúde e educação, além de renúncias fiscais e execução orçamentária.
Com base nesse exame, o TCU elabora dois documentos: o relatório técnico e o parecer prévio, este último enviado ao Congresso Nacional, que é responsável pela decisão final sobre a aprovação das contas do governo.