O Brasil registrou, em 2023, o menor número de nascimentos desde o início da série histórica iniciada em 1976, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda nos nascimentos, observada em quase todo o território nacional, acende um alerta sobre o impacto dessa tendência no desenvolvimento demográfico e econômico do país.
Nascimentos seguem em queda pelo quinto ano consecutivo
De acordo com o levantamento divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira (16), a redução no número de nascimentos continua a se acentuar. Desde 2019, o Brasil registra queda anual nos registros de nascimentos. Em 2023, essa tendência se manteve em praticamente todas as regiões, com exceção do Centro-Oeste, que apresentou um aumento modesto de 1,1%.
Os estados de Tocantins (3,4%) e Goiás (2,8%) destoaram do cenário nacional e apresentaram crescimento nos registros. Em contraste, estados como Rondônia (-3,7%), Amapá (-2,7%), Rio de Janeiro (-2,2%), Bahia (-1,8%) e São Paulo (-1,7%) tiveram as maiores retrações.
Fatores que explicam a queda de nascimentos no país
Diversos fatores contribuem para a redução contínua dos nascimentos no Brasil. Um dos principais é a queda na taxa de fecundidade, que está abaixo do nível considerado suficiente para a reposição populacional — dois filhos por mulher. Outro aspecto relevante é a diminuição do número de mulheres em idade fértil.
A mudança no perfil etário das mães também chama atenção. O número de nascimentos entre mulheres com idades entre 30 e 39 anos aumentou nas últimas duas décadas, enquanto a maternidade na adolescência teve uma redução expressiva. Em 2003, 20,9% dos nascimentos eram de mães adolescentes. Esse índice caiu para 11,8% em 2023. No entanto, a gravidez precoce ainda é um fenômeno comum em áreas com menor acesso a recursos educacionais e de saúde.
Projeções indicam população em declínio a partir de 2041
Os dados do IBGE apontam que, se mantido o ritmo atual, o Brasil atingirá seu pico populacional em 2041, com cerca de 220 milhões de habitantes. A partir de então, o país entrará em uma fase de redução populacional, podendo chegar a 199 milhões de pessoas até 2070. Esse cenário incluirá um ponto de inflexão, previsto para ocorrer em menos de 20 anos, quando o número de mortes superará o de nascimentos, impulsionando o envelhecimento da população.
Com essa mudança estrutural, o Brasil deixará de figurar entre os dez países mais populosos do mundo antes do fim do século. A transição demográfica consolidará o envelhecimento da sociedade e encerrará o chamado bônus demográfico — período em que a força de trabalho em idade ativa impulsionava o crescimento econômico — até 2030.
O impacto da queda de nascimentos vai além das estatísticas demográficas
Especialistas alertam que o país enfrenta esse cenário enquanto ainda se enquadra como uma economia de renda média. O crescimento da força de trabalho, que deveria acompanhar investimentos em educação e produtividade, não ocorreu de forma proporcional. Como consequência, o país poderá enfrentar sérias dificuldades para manter sua competitividade econômica.
Mesmo com a reforma da Previdência de 2019, que atenuou parte da pressão fiscal, as projeções indicam que o déficit previdenciário poderá saltar dos atuais 2,68% do PIB para 11,61% até o ano de 2100, conforme estudos do Tesouro Nacional. Esse aumento exigirá maiores investimentos públicos e poderá comprometer o equilíbrio das contas governamentais.
Além das despesas estatais, o envelhecimento populacional tende a afetar diretamente os orçamentos familiares. A crescente demanda por cuidados com idosos, medicamentos e suporte de saúde impactará os gastos das famílias brasileiras, ampliando os desafios sociais e econômicos nas próximas décadas.