Um estudo clínico recente comparou dois dos medicamentos mais promissores no tratamento da obesidade: Mounjaro, da Eli Lilly, e Wegovy, da Novo Nordisk. Os resultados, divulgados durante o Congresso Europeu de Obesidade (ECO) e publicados na revista científica The New England Journal of Medicine, revelam diferenças significativas entre os efeitos desses tratamentos em pacientes com sobrepeso ou obesidade — e um deles apresentou vantagens importantes.
Comparação entre Mounjaro e Wegovy revela resultados promissores
No estudo clínico internacional, pacientes tratados com tirzepatida — princípio ativo do Mounjaro — apresentaram uma média de perda de peso de 20,2%. Por outro lado, aqueles que utilizaram semaglutida — componente do Wegovy — tiveram uma redução média de 13,7%. Isso representa uma diferença de quase 7% entre os dois grupos. Em números absolutos, os participantes que tomaram tirzepatida eliminaram, em média, 22,8 kg, enquanto os que usaram semaglutida perderam cerca de 15 kg após 72 semanas de tratamento.
Outro indicador importante foi a porcentagem de pacientes que alcançaram uma perda de pelo menos 15% do peso corporal: 64,6% dos tratados com Mounjaro atingiram essa meta, em contraste com 40,1% dos que utilizaram Wegovy.
Estudo SURMOUNT-5 detalha metodologia e participantes
O estudo, nomeado SURMOUNT-5, foi conduzido como um ensaio clínico de fase 3B. Participaram 751 adultos com obesidade ou sobrepeso, todos sem diagnóstico de diabetes, mas com comorbidades como hipertensão, apneia do sono, dislipidemia ou doenças cardiovasculares. Os voluntários foram randomizados para receber doses máximas toleradas de tirzepatida (10 mg ou 15 mg) ou de semaglutida (1,7 mg ou 2,4 mg). Durante o período de estudo, todos também receberam orientações para uma dieta com restrição calórica e aumento da atividade física.
Do grupo que utilizou Mounjaro, 89,3% receberam pelo menos uma dose de 15 mg. Entre os que tomaram Wegovy, 92,8% receberam 2,4 mg. Os dados reforçam que a superioridade de Mounjaro não se deu por subdosagem da medicação concorrente.
Redução de medidas e perfil de segurança
Além da perda de peso mais expressiva, os pacientes tratados com Mounjaro também tiveram melhor desempenho na redução de circunferência abdominal: uma média de 18,4 cm, contra 13 cm entre os que usaram Wegovy. Esses resultados indicam uma potencial vantagem adicional da tirzepatida na composição corporal.
O perfil de segurança dos dois medicamentos foi comparável, com baixa incidência de efeitos colaterais graves. Segundo especialistas, esse dado é relevante para a adoção de Mounjaro como uma alternativa terapêutica segura e eficaz.
Wegovy tem limitações, diz Novo Nordisk
A farmacêutica Novo Nordisk, responsável pelo Wegovy e pelo Ozempic, reconheceu os resultados do estudo, mas destacou possíveis limitações metodológicas. Segundo comunicado da empresa, o SURMOUNT-5 foi um estudo aberto (open label), o que pode influenciar a percepção de eficácia. A companhia também destacou que os resultados obtidos não foram consistentes com os de sua própria linha de estudos clínicos, como a série STEP.
A empresa dinamarquesa informou que está testando novas formulações com doses mais elevadas, como 7,2 mg, em estudo chamado STEP UP. Os resultados preliminares apontam para uma perda de peso média de 20,7%, com um terço dos participantes eliminando 25% ou mais de sua massa corporal. A expectativa é que o pedido de aprovação da nova dose junto à EMA (Agência Europeia de Medicamentos) ocorra no segundo semestre de 2025.
Avanços promissores no tratamento da obesidade
A Eli Lilly também divulgou que o Mounjaro foi aprovado pela Anvisa, em setembro de 2023, para o tratamento de diabetes tipo 2. Contudo, seu uso voltado especificamente à obesidade ainda está em avaliação regulatória no Brasil. Para Luiz Magno, diretor médico sênior da Eli Lilly no país, os dados do SURMOUNT-5 fortalecem o potencial da tirzepatida para o controle da obesidade, uma condição que afeta milhões de brasileiros.
O executivo ressalta a relevância da medicação: “Com mais de um bilhão de pessoas vivendo com obesidade no mundo, precisamos de tratamentos eficazes. No Brasil, cerca de 25% dos adultos convivem com a doença e suas complicações. Avanços como o Mounjaro representam um passo significativo no enfrentamento desse problema de saúde pública.”
