Dois anos após o início da operação do governo federal contra o garimpo ilegal na Terra Yanomami, a região ainda enfrenta desafios graves. O aumento nos casos de malária, desnutrição infantil e infecções respiratórias preocupa autoridades e entidades de defesa dos direitos dos povos indígenas.
Crise sanitária persiste na Terra Yanomami dois anos após Operação do governo
Dados do Ministério da Saúde revelam que, entre 2023 e 2024, os casos de malária aumentaram de 14 mil para 18 mil, afetando mais da metade dos 32 mil indígenas da região. Apesar do crescimento dos diagnósticos, as mortes pela doença diminuíram em 35%, o que as autoridades atribuem ao aumento de 73% no número de testes realizados.
O Ministério da Saúde justifica a elevação dos números afirmando que a ampliação da testagem e do atendimento possibilitou identificar mais casos que antes passavam despercebidos. Mesmo assim, especialistas apontam a necessidade de medidas mais eficazes para conter a disseminação da doença.
Alta nos casos de infecções respiratórias
Outro problema que se agravou na Terra Yanomami foi o aumento das infecções respiratórias agudas. Entre o primeiro semestre de 2023 e o mesmo período de 2024, os casos saltaram de 3,1 mil para 11,4 mil, um crescimento de 272%.
Autoridades de saúde informam que a precariedade das condições de vida, aliada às dificuldades de acesso a áreas remotas, contribui para a proliferação dessas infecções. Equipes de saúde têm enfrentado desafios logísticos para atender comunidades isoladas, onde a infraestrutura médica ainda é limitada.
Impacto na nutrição infantil
A desnutrição entre crianças menores de cinco anos na Terra Yanomami se manteve estável, segundo os órgãos de saúde. No entanto, o índice de mortalidade infantil por desnutrição caiu 68% desde o início da operação governamental. Apesar dessa redução, lideranças indígenas e entidades defensoras dos direitos humanos alertam que a situação ainda é crítica e requer mais investimentos.
Desafios e falta de transparência
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando que o governo federal divulgue relatórios detalhados sobre a operação na Terra Yanomami. Segundo o coordenador jurídico da entidade, Maurício Terena, a falta de transparência impede uma avaliação precisa das condições sanitárias e dificulta o monitoramento da crise.
Outro desafio enfrentado pelas equipes de saúde é a localização remota de muitas comunidades yanomamis. O deslocamento de grupos indígenas para áreas de difícil acesso e a presença de focos de garimpo ilegal na fronteira com a Venezuela complicam ainda mais os esforços para controlar doenças e fornecer atendimento médico adequado.