A Polícia Civil de São Paulo está conduzindo uma investigação sobre o golpe do falso advogado, uma prática criminosa que tem prejudicado clientes de escritórios de advocacia em todo o país. O golpe, conhecido como “golpe do falso advogado”, utiliza informações públicas dos autos dos processos judiciais para enganar vítimas e exigir pagamentos indevidos. As autoridades estão em busca dos responsáveis por este crime, que tem afetado clientes de processos trabalhistas, previdenciários e de indenização.
Como o golpe do falso advogado funciona
Os criminosos conseguem acesso aos dados dos advogados e clientes através dos documentos públicos do processo. Com essas informações em mãos, eles entram em contato com as vítimas se passando pelos advogados responsáveis, seja por ligações telefônicas ou por mensagens via aplicativos de comunicação, como o WhatsApp. Usando fotos e logomarcas dos escritórios de advocacia, os criminosos conseguem se passar pelos verdadeiros representantes legais das vítimas.
Por possuírem informações detalhadas sobre o processo, as vítimas não suspeitam e acabam acreditando na autenticidade dos contatos. Em seguida, os golpistas pedem o pagamento de boletos ou transferências via PIX, alegando que os valores são referentes a custos processuais. O motorista de ônibus Jesuíno Silva, por exemplo, fez o pagamento de sete boletos falsos, totalizando R$ 117 mil.
Jesuíno Silva conta que foi contatado diversas vezes por mensagens, onde recebeu boletos de valores variados, começando com R$ 3 mil e chegando até R$ 40 mil. “Veio por mensagem, no nome da minha advogada. Primeiro veio um boleto de R$ 3 mil, aí foi aumentando. Agora estou devendo, é difícil, do INSS recebo uma mixaria e não posso fazer nada”, lamenta Silva.
Outro caso ocorreu em Curitiba, onde um advogado, que preferiu não se identificar, relatou que desde setembro de 2022, 42 de seus clientes informaram tentativas de golpe. Sete deles chegaram a realizar o pagamento dos boletos, gerando um prejuízo acumulado de R$ 70 mil.
Segundo Luiz Augusto D’Urso, presidente da Comissão Nacional de Cibercrimes da ABRACRIM, a publicidade dos dados pessoais nos processos judiciais facilita a prática desses golpes. Ele defende que o sigilo de alguns documentos durante o andamento do processo poderia reduzir os riscos de fraudes. “Todo mundo ver tudo pode ser um problema”, alerta o especialista em crimes cibernéticos.
D’Urso também aponta que a internet e os crimes digitais aumentaram significativamente esse tipo de crime, e a legislação precisa ser atualizada para oferecer mais segurança às informações processuais.
Outros casos em diferentes estados
Em outros estados brasileiros, o golpe do falso advogado também tem causado prejuízos. No Paraná, o aposentado Francisco Castro caiu no golpe após receber mensagens de um criminoso se passando por sua advogada. Ele efetuou dois pagamentos via PIX que somaram R$ 13 mil. “Eles me passaram documentos com meus dados, e eu fui acreditando”, conta Castro. “Quando pediram mais R$ 19 mil, percebi que era um golpe”, relata.
Situações semelhantes também ocorreram em Brasília, onde três clientes de um escritório previdenciário foram vítimas da fraude. Os golpistas solicitaram pagamentos de supostos impostos e honorários advocatícios para liberar valores que os clientes teriam a receber da Justiça. Na capital cearense, 60 tentativas de golpe foram relatadas por um advogado local, sendo que dois clientes chegaram a realizar pagamentos.
As investigações sobre o golpe do falso advogado estão em andamento em vários estados. No Paraná, a Polícia Civil já está realizando diligências para esclarecer os fatos e responsabilizar os envolvidos. Em 2023, uma operação conjunta das polícias de São Paulo, Paraná e Ceará resultou na prisão de 15 pessoas, suspeitas de fazerem parte de uma organização criminosa responsável por aplicar o golpe.
Enquanto as investigações seguem, é fundamental que os clientes fiquem atentos às comunicações que recebem e sempre verifiquem a autenticidade dos contatos antes de realizar qualquer pagamento. Caso suspeite de golpe, a orientação é procurar imediatamente a Polícia Civil.