Na madrugada desta segunda-feira, 12 de agosto, o Brasil perdeu Antônio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento, e um dos economistas mais influentes do país. Delfim Netto faleceu aos 96 anos, após enfrentar complicações de saúde. A sua importância na história econômica e política brasileira, desde o regime militar até os governos pós-redemocratização, marca um legado que atravessa gerações.
A carreira de Antônio Delfim Netto
Antônio Delfim Netto foi uma figura central durante o regime militar no Brasil, especialmente nos governos de Costa e Silva e Médici. Assumindo o Ministério da Fazenda aos 38 anos, em 1967, Delfim Netto tornou-se o mais jovem a ocupar essa posição.
Ele foi um dos principais artífices do chamado “milagre econômico”, um período de crescimento acelerado da economia brasileira que, no entanto, também trouxe desigualdades sociais. Sua influência foi marcada pelo apoio ao investimento estrangeiro e ao estímulo das exportações, elementos que fortaleceram a economia nacional naquele período.
Uma das frases mais conhecidas de Delfim Netto, “É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”, encapsula sua visão econômica focada inicialmente no crescimento, ainda que a distribuição de renda tenha sido uma questão complexa e amplamente debatida posteriormente.
O Papel de Delfim Netto durante o regime militar
O nome de Antônio Delfim Netto está também ligado a um dos momentos mais controversos da história do Brasil: a assinatura do Ato Institucional número 5, o AI-5, em 1968. Este ato representou um período de grande repressão política e suspensão de direitos civis, sendo considerado o mais duro do regime militar. Delfim Netto, como ministro da Fazenda, estava entre os signatários desse documento, o que demonstra sua proximidade com o núcleo duro do regime.
Após a sua passagem pelo Ministério da Fazenda, continuou sua trajetória política como embaixador do Brasil na França durante o governo de Ernesto Geisel, e posteriormente, ocupou os Ministérios da Agricultura e do Planejamento no governo de João Figueiredo. Sua atuação nestes ministérios consolidou sua imagem como um dos principais formuladores de políticas econômicas do período militar.
Com o fim do regime militar e a redemocratização do Brasil, Antônio Delfim Netto não se afastou da vida pública. Pelo contrário, foi eleito deputado federal por cinco mandatos consecutivos, onde continuou a exercer influência tanto no cenário econômico quanto político.
Conselheiro político
Sua expertise foi requisitada por diversos presidentes, incluindo os governos petistas, e também por grandes empresários, o que reforça sua importância como conselheiro e estrategista econômico.
Em 2014, em um gesto de reconhecimento ao valor do conhecimento e da educação, Delfim Netto doou sua vasta biblioteca pessoal à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP).
Esse acervo, composto por mais de 100 mil livros e 90 mil revistas, inclui obras raras e históricas, como exemplares originais de Adam Smith e John Keynes. A doação também incluiu seu mobiliário, criando na universidade um espaço que reproduz fielmente sua sala de leitura.
Delfim foi autor de mais de 10 livros e inúmeros artigos que dissecavam os problemas e desafios da economia brasileira. Suas análises econômicas, publicadas em cerca de 70 periódicos em todo o país, refletem a profundidade de seu pensamento e a sua capacidade de influenciar debates.