Ney Latorraca, um dos maiores ícones da dramaturgia brasileira, faleceu nesta quinta-feira (26 de dezembro de 2024), aos 80 anos. O ator estava internado no Rio de Janeiro desde o dia 20 de dezembro devido ao agravamento de um câncer de próstata e faleceu em decorrência de uma sepse pulmonar. Com uma carreira marcante e personagens inesquecíveis, Ney Latorraca deixa um legado que transformou a história da televisão, do teatro e do cinema no Brasil.
O diagnóstico e os últimos dias de Ney Latorraca
O câncer de próstata foi diagnosticado em 2019, quando Ney Latorraca passou por uma cirurgia para retirada da próstata. No entanto, em agosto deste ano, a doença voltou com metástases, agravando seu quadro de saúde. Internado desde o início de dezembro, o ator não resistiu às complicações. Ney era casado há 30 anos com Edi Botelho, que agora enfrenta a perda de seu parceiro de vida e profissão.
Antônio Ney Latorraca nasceu em 25 de julho de 1944, em Santos, São Paulo. Filho de artistas, seu pai, Alfredo, era cantor e crooner, e sua mãe, Tomaza, era corista. Desde cedo, Ney conviveu com o universo artístico. Após a proibição dos cassinos no Brasil, a família enfrentou dificuldades financeiras, mas Ney encontrou na arte uma forma de superar adversidades.
O ator começou sua carreira no teatro aos 19 anos, na peça infantil “Pluft, o Fantasminha”, de Maria Clara Machado. Suas primeiras experiências foram em Santos, mas Ney logo se destacou e seguiu para São Paulo, onde realizou testes com grandes nomes, como Plínio Marcos, no Teatro Arena. Apesar de enfrentar a censura da ditadura militar, que impediu algumas peças de serem encenadas, Ney perseverou.
De pequenas participações à consagração na TV
A estreia de Ney na televisão aconteceu na TV Tupi, onde fez figurações e pequenos papéis. Um dos momentos marcantes foi sua participação na novela “Beto Rockfeller”. Apesar de enfrentar críticas no início de sua trajetória – como a de Lima Duarte, que considerou sua voz muito afetada – Ney continuou a buscar seu espaço.
Nos anos seguintes, trabalhou em outras emissoras, como Cultura, Record e SBT, até retornar à Globo, onde consolidou sua carreira. Sua estreia na emissora foi na novela “Escalada” (1975). A partir daí, Ney participou de sucessos como “O Bem-Amado” (1980), “Vamp” (1991), “Zazá” (1997) e “O Cravo e a Rosa” (2000). Cada personagem interpretado por Ney Latorraca carregava seu toque único de humor, carisma e dramaticidade.
Além da televisão, Ney brilhou nos palcos e nas telas do cinema. No teatro, sua irreverência era aclamada, com performances marcantes em peças que uniam comédia e drama. Já no cinema, ele deixou sua marca em produções como “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” (1995), consolidando-se como um dos grandes nomes da dramaturgia brasileira.
A filosofia de vida de Ney Latorraca
Em depoimento ao site Memória Globo em 2007, Ney Latorraca revelou um pouco de sua visão sobre a vida e a carreira: “Sempre fui uma criança diferente das outras, tive uma história instigante. Para mim, estar vivo já é lucro”. Essa filosofia o acompanhou ao longo de sua trajetória, inspirando colegas de profissão e fãs.
Ney também acreditava que “o ator já nasce ator”. Essa paixão pela arte ficou evidente em sua adolescência, quando improvisava cenas até mesmo no ambiente escolar para se destacar.
O legado de Ney Latorraca
Com uma carreira que atravessou décadas e encantou gerações, Ney Latorraca deixa um legado inestimável. Sua versatilidade, humor refinado e talento inquestionável marcaram a história da televisão, teatro e cinema no Brasil. A saudade que ele deixa é proporcional à sua contribuição para a arte e a cultura nacional.