Um impasse entre Celso Amorim, assessor especial da Presidência, e o Ministério da Defesa resultou na suspensão da compra de 36 blindados israelenses, essenciais para a modernização da infantaria mecanizada do Exército brasileiro. A decisão, motivada por pressões políticas, gerou descontentamento nas Forças Armadas e pode comprometer a evolução do programa militar.
Os blindados israelenses
Desde 2017, o Exército brasileiro tem investido em um programa de modernização de sua infantaria mecanizada. A licitação internacional para a aquisição de blindados israelenses foi vencida pela empresa Elbit Systems, com equipamentos que se destacaram nas avaliações técnicas.
No entanto, o ex-chanceler Celso Amorim, atualmente assessor especial da Presidência, persuadiu o presidente Lula a suspender a compra, citando críticas do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu ao líder brasileiro.
A suspensão do contrato foi influenciada por tensões diplomáticas entre Brasil e Israel, especialmente após declarações de Netanyahu que resultaram na declaração de Lula como “persona non grata” pelo governo israelense.
Amorim, considerado um dos principais conselheiros do presidente em assuntos internacionais, argumentou que seguir com a negociação seria incoerente, dado o contexto político. No entanto, essa posição gerou uma forte reação do Ministério da Defesa e do Exército, que defendem que a aquisição dos blindados israelenses é uma questão de Estado, independentemente das relações entre os governantes.
Implicações para o Programa Forças Blindadas
A interrupção da compra compromete o cronograma do Programa Forças Blindadas, projeto estratégico que visa posicionar o Brasil como uma das maiores potências militares nas Américas. Além de modernizar a infantaria, o projeto envolve a adoção de novos processos, treinamentos e doutrinas operacionais.
O atraso na aquisição dos blindados israelenses impacta diretamente esses planos, deixando o Exército insatisfeito e com receio de que o projeto se torne inviável.
Diante do impasse, o ministro da Defesa, José Múcio, tem buscado uma solução para retomar a aquisição dos blindados israelenses. Em uma tentativa de amenizar as críticas internas e garantir o avanço do programa, Múcio propôs que a Elbit Systems estabelecesse uma nova fábrica no Brasil, com a produção inicial de duas unidades de blindados compostas por 60% de peças israelenses e 40% de componentes nacionais. As 34 unidades subsequentes seriam fabricadas integralmente no Brasil, em uma planta industrial a ser finalizada até 2027.
O ministro da Defesa apresentou essa proposta ao presidente Lula, que sinalizou que resolveria a questão, embora sem estipular um prazo específico para uma decisão final. A construção de uma nova fábrica e a geração de empregos de alta tecnologia são vistos como argumentos capazes de angariar apoio dentro do PT, partido que defende a reindustrialização e a criação de empregos qualificados no Brasil.