O número de focos de incêndio no Pantanal em 2024, até o mês de junho, já ultrapassou os registros do mesmo período do ano passado. De janeiro até agora, foram contabilizados 2.571 focos, enquanto em 2023, foram 2.365. A população local enfrenta graves consequências, com a fumaça visível de suas janelas e prejudicial à saúde.
Focos de incêndio no Pantanal em 2024
A professora Marisol, moradora da região há 62 anos, relata que nunca viu tantas queimadas. “Eu jogo água, mas logo a casa está cheia de fuligem insuportável”, comenta. Os moradores de Corumbá e Ladário, cidades próximas às áreas queimadas, estão sofrendo com problemas respiratórios e alérgicos devido à fumaça.
O médico intensivista Nabil Omar Filho explica que o material particulado presente na fumaça agrava doenças como rinite, asma e bronquite. “O monóxido de carbono causa dores de cabeça, tosse, dores no corpo e irritabilidade”, destaca o médico.
Graciele Ramos Leite, auxiliar de limpeza, precisou de atendimento médico após passar mal em casa. “Eu vejo aquela fumaça quando vou para o serviço, dá até medo. Estou com desconforto, diarreia e vômito, tudo causado pela fumaça”, relata.
A estudante Sara Melo, que trabalha na principal festa junina de Corumbá, o Banho de São João, optou por usar máscara. “É uma prevenção contra a fumaça das queimadas, que faz mal para qualquer pessoa”, afirma.
Monitoramento dos incêndios
O Instituto do Homem Pantaneiro, organização que atua na conservação do Pantanal, monitora os pontos de calor em tempo real. Um sistema de câmeras ao longo do Rio Paraguai detecta os focos de incêndio. “Localizamos os focos apontando a câmera para o local e usamos essas informações para comunicar nossa brigada”, explica Igor Souza, analista de sistemas do instituto.
Angelo Rabelo, presidente do Instituto Homem Pantaneiro, ressalta a gravidade da situação. “Estamos próximos de alcançar um milhão de hectares queimados. O fogo se propaga em várias regiões e a ação humana irresponsável contribui para esse caos”, afirma.
Consequências ambientais
A seca no Centro-Oeste agrava a situação dos incêndios. Airton Macena, lavrador, mantém um refúgio para jacarés em sua propriedade e observa a diminuição do braço de rio do sítio a cada ano. “Hoje, essa água empossada é a única que resta. Cada ano seca um pouco mais, está muito seco aqui”, conta.
A população local enfrenta um cenário de poluição do ar, aumento de doenças respiratórias e devastação ambiental, enquanto instituições trabalham para monitorar e controlar as queimadas. A responsabilidade humana e a necessidade de ações efetivas para a preservação do Pantanal são imperativas para reverter essa situação alarmante.