O avanço do Irã e Hezbollah no Brasil tem chamado a atenção de autoridades internacionais e especialistas em segurança. Informações reveladas pelo portal argentino Infobae apontam que o diretor da Universidade Iraniana Al-Mustafa, Ali Abbasi, está atualmente no país, movimentando redes diplomáticas e, possivelmente, operacionais.
Essa universidade é alvo de sanções dos Estados Unidos e do Canadá desde 2020, sob a acusação de ser uma base para o treinamento de milícias xiitas associadas à Força Quds, braço da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, responsável por ações de caráter terrorista fora do território iraniano.
Irã e Hezbollah ampliam presença no Brasil em meio a encontros e suspeitas
A presença de Ali Abbasi no Brasil coincide com encontros diplomáticos de alto escalão. Recentemente, Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República, participou de uma reunião com uma delegação iraniana liderada por Ali Akbar Ahmadian, chefe do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã.
O encontro ocorreu em Moscou durante o 13º Encontro Internacional de Altos Representantes para Assuntos de Segurança, que reuniu 129 delegações de 105 países. Apesar da relevância, o governo brasileiro não divulgou detalhes sobre as conversas com os representantes iranianos.
Em um gesto simbólico, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, visitou a Embaixada do Irã em Brasília no dia 19 de maio para prestar homenagem ao ex-presidente iraniano Ebrahim Raisi, morto em um acidente aéreo. Raisi era conhecido internacionalmente pelo histórico de repressões contra opositores.
Outro fato que gerou preocupação foi o pouso de um Airbus A340 oficial do governo iraniano em Brasília, há aproximadamente um mês. Nenhuma autoridade, nem brasileira nem iraniana, se manifestou oficialmente sobre os motivos da visita, aumentando as suspeitas sobre a real finalidade da aeronave.
Hezbollah amplia atuação na Tríplice Fronteira e no Brasil
A influência do Irã e Hezbollah também se estende para além da diplomacia. A Embaixada dos Estados Unidos em Brasília lançou um comunicado oferecendo até US$ 10 milhões por informações que levem à identificação dos canais financeiros do Hezbollah na Tríplice Fronteira, região que compreende Brasil, Paraguai e Argentina.
As autoridades norte-americanas apontam que o grupo financia suas atividades na América do Sul por meio de tráfico de drogas, contrabando, lavagem de dinheiro e negócios de fachada.
Em novembro de 2023, a Polícia Federal brasileira deflagrou a Operação Trapiche, que desarticulou uma célula ligada ao Hezbollah. As investigações revelaram que dois membros do grupo, Mohamad Khir Abdulmajid e Haissam Houssim Diab, contrataram brasileiros para executar ataques contra alvos israelenses em território nacional. Ambos seguem foragidos e estão na lista de procurados da Interpol.
A PF identificou que a célula operava utilizando tabacarias em Belo Horizonte como fachada para lavagem de dinheiro. Além disso, havia suporte financeiro do Centro Cultural Beneficente Islâmico de Brasília, que, segundo os investigadores, recebe recursos provenientes do Irã desde 2019.
Crescimento da presença ideológica e institucional
Um relatório da inteligência saudita, divulgado pelo canal Al-Hadath, revelou que cerca de 400 membros do Hezbollah e seus familiares migraram recentemente para países da América Latina, incluindo o Brasil. A movimentação indicaria uma estratégia do grupo para fortalecer suas operações fora do Oriente Médio.
No território brasileiro, sinais dessa atuação se tornaram visíveis. Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), uma barraca foi montada em um evento onde eram vendidas bandeiras do Hezbollah, acompanhadas de cartazes com mensagens contra Israel, como “Morte a todos os sionistas” e “A favor da destruição do maldito Estado terrorista de Israel”.
O evento foi organizado pelo Instituto Brasil-Palestina e pelo jornal A Nova Democracia. Em comunicado oficial, as entidades pediram que o Brasil rompa relações diplomáticas e comerciais com Israel, utilizando termos como “entidade nazi-sionista”.
Articulação política e pressão pública
Além das manifestações, um grupo de personalidades brasileiras, incluindo artistas como Chico Buarque e Milton Hatoum, assinou uma carta exigindo que o governo brasileiro rompa relações com Israel.
A iniciativa faz parte da campanha Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), classificada pela inteligência alemã como uma ameaça extremista, com suspeitas de vínculos com o Hamas e a Frente Popular para a Libertação da Palestina.
Hezbollah e o crime organizado no Brasil
Embora o Brasil não classifique formalmente o Hezbollah como organização terrorista, a legislação vigente — Lei nº 13.260/2016 — permite penalizar quem organiza ou financia atos com finalidade terrorista.
As investigações apontam que as conexões do Hezbollah com o crime organizado brasileiro, especialmente com o Primeiro Comando da Capital (PCC), estão cada vez mais consolidadas. A parceria envolve tráfico de drogas, utilização de criptomoedas, lavagem de dinheiro e outras atividades ilícitas que colocam em risco a segurança nacional e a estabilidade econômica da região.