O Brasil atravessa um dos períodos mais críticos de sua história recente, com uma seca que já é considerada a mais severa já registrada. Dados inéditos revelam que, pela primeira vez, a estiagem se espalha de maneira generalizada por quase todo o território nacional, com exceção do Rio Grande do Sul.
Este cenário, alarmante por si só, indica que a situação não deve melhorar até o final do ano. A seca, um fenômeno que afeta diretamente a vida de milhões de brasileiros, está no centro das preocupações das autoridades e da população.
Seca sem precedentes
A análise do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, confirma a gravidade da situação. Com base em dados históricos desde 1950, o Cemaden observa um agravamento significativo da seca a partir de 1988.
Em 2015, o Brasil já havia enfrentado uma estiagem severa, mas que afetou apenas partes do país. O que torna a seca de 2024 particularmente preocupante é sua abrangência e intensidade, afetando grandes porções do território de maneira uniforme.
Hoje, mais de um terço do Brasil, correspondendo a mais de 3 milhões de km², está sob os efeitos da estiagem mais intensa já vista. Os impactos dessa seca são vastos e incluem:
– Isolamento de cidades: No Norte do país, a redução drástica dos níveis dos rios tem isolado comunidades inteiras, interrompendo a navegação e dificultando o acesso a bens e serviços essenciais.
– Incêndios descontrolados: O fogo, alimentado pela vegetação seca, se espalha por todas as regiões, gerando uma nuvem de fumaça que cobre vastas áreas e causa sérios problemas respiratórios na população.
– Baixos níveis dos rios: A seca extrema também reduziu os níveis dos rios a tal ponto que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) precisou ativar usinas termoelétricas para garantir o abastecimento de energia no país.
Em comparação com a seca de 2015, a área afetada este ano é significativamente maior. Enquanto naquela época cerca de 2,5 milhões de km² estavam sob influência da seca, em 2024, esse número ultrapassa os 3 milhões de km², evidenciando a gravidade da situação.
Fatores que agravam a situação
A complexidade da seca no Brasil em 2024 é resultado de uma combinação de fatores climáticos que atuam de forma interligada:
– El Niño: Este fenômeno climático, que causa o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, contribuiu para o aumento das temperaturas no Brasil e alterou os padrões de chuva, resultando em uma seca particularmente severa na região Norte.
– Bloqueios atmosféricos: Esperava-se que o El Niño perdesse força e que a seca terminasse em abril de 2024. No entanto, bloqueios atmosféricos impediram o avanço das frentes frias pelo país, mantendo a chuva abaixo da média em quase todas as regiões, exceto no Rio Grande do Sul.
– Aquecimento do Atlântico Tropical Norte: Outro fator crucial foi o aquecimento anômalo do Oceano Atlântico Tropical Norte, que contribuiu para a prolongação da seca em 2023 e 2024, alterando os padrões de precipitação em todo o Brasil.
A interação entre esses fenômenos climáticos criou uma situação de seca contínua, sem trégua, que se intensificou ao longo dos meses e atingiu proporções alarmantes.
Dados recentes mostram que mais de 3.800 municípios brasileiros enfrentam algum grau de seca, que varia de moderada a excepcional. Entre julho e agosto de 2024, o número de cidades afetadas aumentou em quase 60%, refletindo a rápida deterioração das condições climáticas. A expansão da área afetada pela seca tem causado uma série de problemas sociais e econômicos, agravando a vulnerabilidade de populações já fragilizadas.