*Aparecido Carmo/ Repórter MT
Para o deputado estadual Gilberto Cattani (PL), a ideia do governo federal de importar arroz para o Brasil foi uma tentativa de usar a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul para quebrar a cadeia de produção de arroz no Brasil. A tática, conforme o parlamentar, teria como objetivo permitir que o governo possa controlar o setor, mantendo poucos produtores concentrando grande parte da produção.
O leilão, realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na semana passada, foi anulado nessa terça-feira (11) pelo governo depois que vieram à tona relações entre o filho de Neri Geller com ex-assessores do pai, envolvidos nas negociações para trazer o produto do exterior.
“Não é por prazer nem por nada disso [que o governo quer importar arroz]. A questão é a seguinte: quando criança, lá na escola, a gente arrumava uma encrenca com o moleque mais fraco que você, porque senão você ia apanhar. O único setor que pode, hoje, encarar frente à frente essa sanha comunista que está se avizinhando no nosso país, que já entrou no nosso país, é o agronegócio. O agronegócio é forte, eles [os petistas] não conseguem dominar ele, então eles precisam enfraquecê-lo”, avaliou o deputado.
Conforme Cattani, desde que o Partido dos Trabalhadores voltou ao poder, com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2023, o governo tem usado de expediente parecido contra a cadeia do leite, trazendo para o país produto de menor qualidade com menor preço para enfraquecer os produtores.
“Desde que chegaram ao governo eles estão importando leite e inundando o mercado nacional com leite importado, triangulado pelo Mercosul, da Argentina ou do Uruguai. Pegam leite que não tem valor nenhum lá fora, de péssima qualidade, hidratam esse leite novamente e jogam no mercado brasileiro para quebrar um setor que é o setor leiteiro. O que eles começaram a fazer agora é a mesma coisa em outro setor, usando uma tragédia que aconteceu no Rio Grande do Sul para ferrar e acabar com outro setor da agricultura, que é o setor arrozeiro”, disse.
O objetivo, para Cattani, é construir oligopólios controlados por parceiros do governo, de modo a minar o poder de influência que os produtores que têm visão política contrária ao PT. “[A ideia é] Fomentar duas ou três empresas gigantescas e quebrar os demais pra poderem controlar. É diferente, não é quebrar, eles não querem quebrar, eles querem controlar o agronegócio”, explica.
Conforme os produtores de Mato Grosso, se a ideia de importação for adiante, o arroz estrangeiro deve chegar aos mercados brasileiros entre setembro e outubro, período da campanha eleitoral. Além disso, os produtos trarão o emblema do governo nas embalagens e, estima-se, serão comercializados por R$ 8 o pacote de 2kg. Para Cattani, há risco de uso político do arroz importado.
“Eles querem pegar um arroz, querem tabelar esse preço pra que o nosso arroz produzido aqui não valha mais nada, porque uma vez que você tem um concorrente mais barato, você vai prejudicar diretamente o nosso setor, que tem sim capacidade de abastecer o mercado, porque não falta arroz no mercado, e aí eles vão colocar o emblema deles, que é pra dizer ‘olha aqui, é nóis’”, explicou.
Cattani também comentou a demissão de Neri Geller do cargo de Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Para o deputado estadual “não tem surpresa nenhuma” nas suspeitas de irregularidades.
“Tudo que esse pessoal faz, eles fazem pensando nisso. Nós já tivemos o mensalão, nós já tivemos o petrolão, agora nós temos o arrozão. Não tem nenhuma novidade para mim”, afirmou.