O presidente da Câmara, Arthur Lira, encaminhou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) duas Propostas de Emenda à Constituição (PECs), uma delas, tenta colocar freio às decisões monocráticas no STF. O envio ocorre em meio a uma crescente tensão entre o Congresso e o Judiciário, após o STF formar maioria para manter a decisão do ministro Flávio Dino, que suspendeu as emendas parlamentares ao Orçamento.
Lira a PECs para Limitar Decisões Monocráticas do STF
Uma das PECs enviadas por Lira à CCJ é de autoria do senador Oriovisto Guimarães, que já foi aprovada pelo Senado. Esta proposta visa limitar as decisões monocráticas no STF, ou seja, decisões individuais que possam suspender a eficácia de leis ou atos dos presidentes da República, do Senado e da Câmara.
A PEC sugere que tais decisões só possam ocorrer em situações de grave urgência ou risco de dano irreparável e que, mesmo nesses casos, devem ser validadas pelo colegiado dos tribunais em até 30 dias após o recesso do Judiciário.
Outra proposta, apresentada pelo deputado Reinhold Stephanes, permite que o Legislativo suste decisões do STF mediante o voto de dois terços dos membros da Câmara e do Senado. Essa PEC defende que o Congresso Nacional tenha o poder de sustar decisões que, na visão dos parlamentares, extrapolem o exercício adequado da função jurisdicional e criem novas normas jurídicas de caráter geral e abstrato.
Reações de Lira e do STF
Arthur Lira já havia demonstrado seu descontentamento com a decisão monocrática de Flávio Dino que suspendeu as emendas parlamentares. Segundo Lira, não seria aceitável que uma decisão dessa magnitude fosse tomada individualmente por um ministro, sem a devida consulta ao Congresso.
Durante um evento recente, Lira reforçou a importância da autonomia do Legislativo na execução do Orçamento, expressando claramente seu desconforto com a interferência do Judiciário.
Por outro lado, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, negou o pedido do Congresso e de 11 partidos políticos para reverter a decisão de Dino. Barroso argumentou que a decisão do ministro estava dentro dos limites da separação dos Poderes e que atendia a requisitos de transparência e rastreabilidade na execução das emendas parlamentares.
Impactos nas Emendas Parlamentares e no Orçamento
A suspensão das chamadas emendas Pix, que são uma parte das emendas individuais, foi um dos pontos mais sensíveis nessa disputa. As emendas Pix permitem a destinação direta de recursos federais a Estados e municípios, muitas vezes sem um controle claro de como esses recursos são utilizados.
Flávio Dino exigiu que o Congresso estabelecesse regras mais rígidas para a execução dessas emendas, assegurando que observem critérios de transparência e eficiência.
O Congresso, em resposta, tentou votar mudanças nas emendas Pix para aumentar a transparência, mas a análise foi suspensa após a nova decisão de Dino. Em retaliação, uma Medida Provisória que aumentaria o orçamento do Judiciário foi rejeitada pela Comissão Mista de Orçamento (CMO).
Tensão entre os Três Poderes
O cenário atual reflete uma disputa de poder entre os Três Poderes, com o Judiciário atuando como árbitro entre o Executivo e o Legislativo. Após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o STF declarou inconstitucional o orçamento secreto, uma prática que permitia ao Congresso direcionar recursos sem a devida transparência. Mesmo assim, parte desses recursos permaneceu sob o controle dos parlamentares após um acordo com o Planalto.
Agora, com a nomeação de Flávio Dino para o STF, os parlamentares enxergam uma nova ofensiva do governo federal, em aliança com o Judiciário, para reaver o controle sobre o Orçamento. À medida que essa batalha se desenrola, o papel de cada Poder na definição e execução do Orçamento continuará sendo um ponto central de debate.