Um recente estudo publicado na renomada revista científica Science sugere que um fenômeno conhecido como “apagão cerebral” pode estar relacionado ao desenvolvimento de enxaquecas. Esse “apagão”, caracterizado pelo desligamento temporário da atividade dos neurônios, altera o fluido cerebrospinal, um líquido claro que envolve o cérebro e a medula espinhal, levando à dor e inflamação.
Enxaqueca – O estudo e seus objetivos
O objetivo principal do estudo foi entender de que maneira o cérebro pode acionar os nervos para causar dor de cabeça, uma vez que o próprio cérebro não possui receptores de dor.
Pesquisas anteriores indicaram que a dor de cabeça ocorre quando moléculas do líquido cefalorraquidiano, que circula pelo sistema nervoso central, atingem nervos nas meninges, responsáveis pela proteção do cérebro e da medula espinhal.
Os cientistas queriam investigar se havia vazamentos que poderiam atingir o nervo trigêmeo, um nervo crucial que retransmite informações sensoriais do rosto e da mandíbula para o cérebro e que contém receptores de dor e proteínas inflamatórias.
Os pesquisadores utilizaram camundongos com um tipo específico de dor de cabeça chamada enxaqueca aural, que se caracteriza por sintomas como náuseas, vômitos, sensibilidade à luz e dormência.
Durante esse tipo de dor de cabeça, o cérebro passa por um “apagão” conhecido como “depressão alastrante cortical” (CSD). Os cientistas observaram o movimento e o conteúdo do fluido cerebrospinal dos camundongos durante esse “apagão” e notaram mudanças significativas nas concentrações de proteínas, algumas caindo para menos da metade e outras dobrando, incluindo uma proteína associada à transmissão da dor.
Descobertas Significativas
Os pesquisadores identificaram uma lacuna nas camadas protetoras ao redor do gânglio trigeminal, permitindo que o fluido cerebrospinal atingisse os nervos do rosto e do crânio.
O fluido coletado após um episódio de “apagão” mostrou um aumento na atividade desses nervos, sugerindo que as dores de cabeça poderiam ser desencadeadas por esses sinais de dor. No entanto, o fluido coletado 2,5 horas após os “apagões” não teve o mesmo efeito, indicando que o fenômeno é de curta duração.
Implicações para futuros tratamentos
As descobertas do estudo abrem novas possibilidades para o desenvolvimento de tratamentos inovadores para dor de cabeça, fornecendo pistas sobre como eventos neurológicos podem levar à enxaqueca. No entanto, é importante destacar que a pesquisa foi realizada em camundongos, e mais estudos são necessários para confirmar esses achados em humanos.
Gregory Dussor, neurocientista da Universidade do Texas em Dallas, afirmou em entrevista à Nature que estudos futuros devem investigar por que as proteínas no fluido espinhal que atingem os nervos do rosto resultam em dores de cabeça, mas não em outros tipos de dor. Segundo Dussor, “isso levantará muitas questões interessantes no campo e provavelmente será a fonte de muitos novos projetos de pesquisa”.
Embora promissoras, essas descobertas ainda precisam ser confirmadas por pesquisas adicionais em humanos. Avanços nesse campo podem levar ao desenvolvimento de novos tratamentos para enxaqueca, beneficiando milhões de pessoas que sofrem com essa condição debilitante.