A compra mal esclarecida de arroz, o indiciamento do ministro das comunicações por corrupção, a devolução da MP do Pis/cofins pelo Congresso e a manutenção dos juros americanos fizeram o dólar disparar nesta quarta-feira (12), atingindo R$ 5,43, com esta alta, o dólar sobe para o maior valor desde 4 de janeiro de 2023. A alta da moeda americana reflete a crescente incerteza fiscal e econômica no Brasil, impactando diversos setores do mercado financeiro.
Dólar sobe após discurso do Presidente Lula
A moeda americana registrou uma alta de 1,29% no início do dia, cotada a R$ 5,43, sendo a maior em 18 meses. Às 16h33, a cotação estava em R$ 5,40, com uma variação positiva de 0,83%. Esse movimento de alta é um reflexo direto das recentes preocupações econômicas e políticas.
Para piorar o cenário, o presidente Lula fez um péssimo discursou pela manhã para uma plateia de investidores durante o Future Investment Initiative (FII) Institute, um evento promovido pelo FIP (fundo soberano da Arábia Saudita) e mais 30 empresas globais.
Ele disse que “não é uma entidade abstrata apartada da política e sociedade. Não se sustenta sem estabilidade política e social.”
Perguntado sobre a dificuldade do governo em aumentar a arrecadação e a devolução pelo Senado da Medida Provisória que restringia a compensação de créditos do PIS/Cofins geraram ainda mais incerteza, o presidente disse que o governo está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas que “não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia”.
Vale destacar que a Medida Provisória poderia ter aumentado a receita federal em R$ 29,2 bilhões, mas sua devolução aumenta a pressão sobre o governo.
As declarações do presidente que visavam tranquilizar investidores, teve um efeito contrário e o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, também foi afetado pela instabilidade econômica e os supostos rumores de corrupção no governo.
Por volta das 12h30, o índice registrava uma queda de 1,37%, atingindo 119.973,08 pontos, um nível similar ao de novembro do ano passado. A preocupação com a situação fiscal refletiu diretamente no desempenho das ações.
Análise de Especialistas
Elson Gusmão, diretor de câmbio da corretora Ourominas, apontou que além da incerteza sobre a política de juros do Federal Reserve (Fed) nos EUA, o cenário político brasileiro contribui para a cautela no mercado. A indefinição sobre as fontes de compensação para a desoneração da folha de pagamentos agrava a situação fiscal. Segundo Gusmão, a falta de um plano B por parte da equipe econômica aumenta a desconfiança entre os investidores.
Comparação Internacional
Dados da Elos Ayta Consultoria revelam que o real teve a terceira maior desvalorização frente ao dólar em 2024, perdendo apenas para o peso argentino e o iene japonês. O dólar acumula uma alta de 11,38% no ano em relação ao real, evidenciando a fragilidade da moeda brasileira frente às turbulências econômicas.
As expectativas de que o dólar encerre o ano em torno de R$ 5, como projetado inicialmente no Boletim Focus, estão se desvanecendo. A projeção mais recente aponta para R$ 5,05, enquanto o Itaú BBA revisou suas expectativas para R$ 5,15 em dezembro. Alexandre Viotto, da EQI Investimentos, acredita que é mais provável que o dólar atinja R$ 5,50 no curto prazo do que retorne a R$ 4,80.
O mercado financeiro brasileiro continua em alerta, aguardando soluções para as questões fiscais que impactam diretamente a economia. Enquanto isso, dólar sobe e sua cotação segue sendo um termômetro importante das incertezas que permeiam o ambiente econômico nacional e internacional.