Um relatório recente da Controladoria-Geral da União (CGU) trouxe à tona um cenário alarmante envolvendo descontos associativos em aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). De acordo com o documento, diversas cidades do interior do Nordeste concentram os maiores índices proporcionais desses descontos, revelando possíveis fraudes e má gestão por parte de associações.
Municípios do Nordeste concentram maior número de descontos associativos
Segundo o levantamento da CGU, baseado em dados de março de 2024, pelo menos 19 municípios brasileiros apresentaram mais de 60% dos beneficiários do INSS com descontos associativos ativos. A maioria dessas cidades está localizada nos estados do Maranhão e Piauí, ambos situados na região Nordeste. Os dados fazem parte da investigação que embasou a Operação Sem Desconto, realizada pela Polícia Federal.
A Controladoria destacou que, nesses municípios com alta incidência de mensalidades, a maior parte dos valores foi destinada à Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), uma das entidades investigadas na operação. Em nota oficial, a Contag afirmou que sempre atuou com ética e se colocou à disposição das autoridades para colaborar com as apurações.
Prejuízos podem ultrapassar R$ 6 bilhões entre 2019 e 2024
O relatório da CGU, datado de junho de 2024, estima que os descontos não autorizados podem ter causado um prejuízo de até R$ 6,3 bilhões nos últimos cinco anos. A investigação identificou que grande parte dos beneficiários sequer tinha conhecimento dos descontos, levantando suspeitas sobre a legalidade das cobranças.
As apurações também revelaram que algumas entidades investigadas não possuíam estrutura física ou recursos humanos compatíveis com a quantidade de associados informada. A AAPPS Universo, por exemplo, declarou possuir aproximadamente 250 mil associados em mais de 4 mil municípios, mas, durante vistoria, foram encontrados apenas dois funcionários em sua sede.
Outro caso destacado foi o da Associação Ambec, sediada em São Paulo, que alegou ter mais de 500 mil associados em todo o país, incluindo o Distrito Federal. No entanto, durante a visita da CGU, apenas um funcionário estava presente no local. A entidade oferecia serviços como teleconsultas, odontologia e descontos em farmácias, por meio de uma corretora de seguros.
A CGU também constatou indícios de má gestão e práticas irregulares por parte de várias associações. Entre os problemas observados estão dirigentes com idade avançada, aposentados por invalidez ou sem experiência formal na administração de entidades.
Em muitos casos, os presidentes transferiam suas funções a terceiros por meio de procurações, o que, segundo a Controladoria, pode indicar a presença de representantes de fachada, dificultando a identificação dos reais responsáveis pelas operações financeiras.
Medidas adotadas e suspensão de descontos
Diante das irregularidades constatadas, o governo federal suspendeu os descontos associativos em folha para todas as entidades citadas na investigação. A Ambec, uma das organizações afetadas, informou que está à disposição dos associados, divulgando telefone e link para cancelamento dos débitos.
As investigações continuam sendo conduzidas pela Polícia Federal, com apoio da CGU, para identificar todos os envolvidos e recuperar os valores desviados. A atuação coordenada entre os órgãos busca garantir maior transparência e segurança para os beneficiários do INSS, especialmente nas regiões mais afetadas, como o Nordeste.
O relatório da CGU evidencia um esquema complexo envolvendo descontos não autorizados em aposentadorias e pensões do INSS, com maior incidência em cidades do interior do Nordeste. As investigações apontam falhas graves na gestão de associações e indícios de fraude, o que gerou um impacto financeiro bilionário entre 2019 e 2024. Com a suspensão dos descontos e a continuidade das apurações, espera-se que as medidas adotadas resultem em maior proteção aos beneficiários e responsabilização dos envolvidos.