Um relatório de inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais revela uma possível aliança entre as duas maiores facções criminosas do Brasil: o PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), originado no Rio de Janeiro. O documento aponta uma trégua entre os grupos, que inclui a unificação dos advogados de ambas as organizações e ordens para suspender execuções entre seus membros.
Relatório indica acordo entre PCC e Comando Vermelho
A informação foi divulgada pelo programa Fantástico, da TV Globo, e indica que o acordo foi elaborado por integrantes do alto escalão de ambas as facções. O objetivo principal seria fortalecer a atuação criminosa e contornar medidas de repressão no sistema penitenciário federal.
PCC e Comando Vermelho são as únicas facções do país com alcance nacional e são consideradas o ápice do crime organizado no Brasil. Suas atividades criminosas incluem o tráfico de drogas e armas, além da cobrança de mensalidades de seus membros para sustentar a estrutura das organizações.
Além do território brasileiro, a influência dessas facções se estende a países vizinhos, onde operam rotas internacionais de entorpecentes e armamentos. A unificação das operações permitiria uma logística mais eficiente e uma rede de distribuição ainda mais consolidada.
O acordo entre PCC e CV visa também uma atuação estratégica dentro do sistema penitenciário federal. A aliança busca formas de flexibilizar o rigor da custódia de lideranças criminosas, que atualmente estão distribuídas entre as cinco unidades federais de segurança máxima localizadas em Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Porto Velho (RO), Mossoró (RN) e Brasília (DF).
Entre os detentos dessas penitenciárias estão Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como principal líder do PCC, e Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, considerado um dos líderes do CV. O regime de isolamento severo imposto a esses detentos inclui celas individuais de 6m², sem contato físico com outros presos, e restrições rigorosas a visitas e comunicação externa.
Investigação sobre mensagens e gravações
Autoridades investigam mensagens de texto que indicam a existência da trégua entre as facções. Em uma das mensagens analisadas, integrantes do PCC teriam confirmado o pacto, ressaltando que execuções entre membros das duas organizações estão proibidas em todo o território nacional. Já em outra, representantes do CV informam que desde 11 de fevereiro ataques contra membros do PCC foram vetados.
Além das mensagens, gravações realizadas com autorização judicial reforçam as suspeitas de que o pacto está em vigor. As escutas registram conversas entre advogados e presos de alta periculosidade, o que sugere um planejamento estruturado para consolidar a aliança e expandir a influência das facções.
O promotor Lincoln Gakiya, que há décadas investiga o PCC, confirmou à TV Globo que a trégua já está sendo observada nas capitais do país. Segundo ele, a aliança entre as maiores organizações criminosas do Brasil pode resultar em um aumento expressivo no tráfico internacional de cocaína e na importação ilegal de armamentos, além do compartilhamento de rotas e estratégias para evitar ações repressivas do Estado.