O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou um projeto de lei que buscava garantir suporte financeiro contínuo a crianças com microcefalia causada pelo Zika vírus, gerando uma onda de insatisfação entre mães e representantes de organizações ligadas à causa. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) na última quinta-feira, dia 9, e foi justificada com base na legislação fiscal e orçamentária vigente.
A justificativa para o veto presidencial
O governo federal argumentou que o projeto de lei violava a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025. Segundo o Executivo, a proposta geraria despesas obrigatórias sem a devida estimativa de impacto financeiro e sem a definição de fontes de custeio, o que impossibilitaria a sua implementação dentro das regras fiscais.
Além disso, o governo destacou que a proposta divergia da abordagem biopsicossocial da deficiência, adotada na Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, ao dispensar a reavaliação periódica dos pacientes e estabelecer um tratamento desigual para outras condições de saúde.
Em substituição ao projeto vetado, o presidente Lula assinou uma medida provisória (MP) que prevê uma indenização única de R$ 60 mil para as famílias de crianças com microcefalia associada ao Zika vírus. No entanto, a medida foi recebida com forte crítica por parte de mães e representantes de ONGs ligadas ao tema.
Germana Soares, vice-presidente da ONG UniZika Brasil, demonstrou indignação ao afirmar que o governo federal não oferece suporte suficiente. Para ela, o valor é irrisório diante das necessidades das crianças, que frequentemente enfrentam custos mensais com terapias que chegam a R$ 10 mil. Germana destacou que a indenização sequer cobre tratamentos médicos essenciais, como cirurgias de osteotomia, indispensáveis para a qualidade de vida desses pacientes.
Já Luciana Arraes, presidente da mesma ONG, classificou a MP como um “cala-boca” para as mães, sugerindo que a iniciativa tenta minimizar o impacto do veto sem oferecer uma solução real. Segundo Luciana, faltou diálogo por parte do governo na busca por alternativas que atendessem às demandas das famílias afetadas.
Apoio às crianças com microcefalia
A decisão de vetar o projeto reacendeu o debate sobre a responsabilidade do Estado em garantir suporte contínuo a crianças com microcefalia. Segundo especialistas, as famílias dessas crianças enfrentam dificuldades extremas para acessar tratamentos especializados, terapias regulares e medicamentos.
Esses cuidados exigem um investimento significativo, que ultrapassa a capacidade financeira da maioria das famílias. Em muitas situações, os responsáveis acabam assumindo dívidas ou abdicando de suas carreiras profissionais para se dedicar integralmente aos cuidados dos filhos.
Além disso, o veto presidencial também levantou questionamentos sobre o cumprimento de compromissos internacionais assumidos pelo Brasil em prol dos direitos das pessoas com deficiência. Embora o governo tenha apontado a falta de estimativas de impacto financeiro como um problema, críticos afirmam que o argumento não justifica a ausência de políticas robustas para atender essa população vulnerável.
Mães de crianças com microcefalia afirmam que o apoio financeiro contínuo é essencial para garantir o desenvolvimento e a qualidade de vida dos pequenos. Sem esse suporte, muitas famílias ficam desamparadas, dependendo de iniciativas privadas ou de doações para suprir suas necessidades básicas.
As críticas também se voltam para a falta de políticas públicas que garantam acesso universal a serviços de saúde especializados. Segundo Germana Soares, as famílias frequentemente enfrentam longas filas para consultas e exames no sistema público, o que agrava ainda mais a situação.