Nesta quarta-feira (2), a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em um escritório utilizado pelo atual prefeito e candidato à reeleição, Roberto Dorner, em Sinop, a cerca de 500 km de Cuiabá. A ação faz parte de uma investigação conduzida pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), que apura a existência de um “comitê não oficial” da campanha, práticas de caixa 2 e outros crimes relacionados à corrida eleitoral. O nome de Roberto Dorner está no centro das denúncias que envolvem falsidade ideológica e abuso de poder econômico.
Mandados de busca e apreensão em escritório suspeito
A operação, realizada na quarta-feira, incluiu mandados de busca e apreensão no escritório que, segundo as investigações, era usado de maneira clandestina pela equipe de campanha de Roberto Dorner.
O local, descrito como uma sala comercial disfarçada com uma placa de “aluga-se”, teria sido o centro de atividades irregulares, onde se realizavam pagamentos ilícitos a colaboradores da campanha. De acordo com o Ministério Público, o local era mantido com as cortinas abaixadas e recebia movimentações suspeitas.
Ainda não foram divulgados os itens apreendidos durante a ação da Polícia Federal, mas as investigações sugerem que o escritório pode ter sido utilizado como parte de um esquema de caixa 2, em que dinheiro em espécie era distribuído sem o devido registro oficial.
As fotos anexadas ao processo mostram a entrada e saída de diversas pessoas do imóvel, incluindo momentos em que uma delas assina documentos e sai com dinheiro em mãos, evidenciando a irregularidade nas operações financeiras.
Suspeitas de falsidade ideológica e abuso de poder econômico
Roberto Dorner e seu vice, Paulo Henrique Fernandes de Abreu, estão sendo acusados de operar esse “escritório paralelo” durante a campanha, o que levanta suspeitas de falsidade ideológica e abuso de poder econômico. As provas colhidas até o momento indicam a existência de um esquema para ocultar o pagamento de colaboradores da campanha por meios ilegais, burlando as normas estabelecidas pela Justiça Eleitoral.
Além das fotografias, o processo conta com vídeos que reforçam as suspeitas de movimentações irregulares no local. As imagens capturadas mostram várias pessoas entrando e saindo da sala em diferentes horários, em situações semelhantes, e sempre deixando o local de maneira discreta.
A natureza suspeita dessas movimentações contribui para fortalecer a acusação de que Roberto Dorner estaria gerenciando um sistema de contabilidade paralelo, sem respeitar as exigências legais.
Suposto esquema de contabilidade paralela e pagamentos ilícitos
A investigação também inclui gravações em áudio que revelam detalhes sobre como os pagamentos em dinheiro eram feitos aos colaboradores de campanha. De acordo com o promotor eleitoral Pedro da Silva Figueiredo Junior, esses pagamentos foram realizados sem registro bancário ou qualquer tipo de controle oficial, em total desacordo com as normas de financiamento eleitoral. O Ministério Público Eleitoral argumenta que o uso de dinheiro em espécie, sem qualquer rastreamento oficial, infringe as disposições do artigo 38 da Resolução TSE 23.607/2019.
Essa regra determina que todas as transações financeiras relacionadas à campanha devem ser realizadas por meios rastreáveis, como transferência bancária, cheque nominal ou Pix, o que asseguraria a transparência e o controle dos gastos eleitorais. Os indícios apontam que as normas não foram respeitadas pela equipe de Dorner.
Suposta violação das regras de financiamento de campanha
Outro ponto levantado na investigação é a violação do artigo 39 da Resolução TSE 23.607/2019, que trata sobre a utilização do Fundo de Caixa. Este dispositivo permite que candidatos e partidos mantenham uma reserva em dinheiro vivo para pequenos gastos, mas esse valor não pode exceder meio salário mínimo e deve ser previamente registrado na conta de campanha.
No caso de Roberto Dorner, a suspeita é de que o uso de grandes quantias em dinheiro para o pagamento de colaboradores ultrapassou os limites permitidos por lei, caracterizando um grave desrespeito às normas eleitorais.
A falta de registros formais sobre os pagamentos feitos no escritório investigado reforça as acusações de caixa 2. De acordo com as investigações, ao não declarar oficialmente esses pagamentos, a equipe de Dorner teria ocultado do sistema financeiro eleitoral as movimentações de campanha, o que poderia ter dado a ele uma vantagem injusta sobre os concorrentes ao utilizar recursos fora do controle legal.
Próximo passo da investigação
Caso as acusações sejam confirmadas, Roberto Dorner e seu vice poderão enfrentar sérias consequências jurídicas. A prática de caixa 2 e a falsidade ideológica são crimes que podem resultar não apenas em multas pesadas, mas também na perda do mandato e na inelegibilidade por um período determinado pela Justiça Eleitoral.
A investigação ainda está em andamento, e o MPE segue analisando o material apreendido para reunir mais evidências contra os envolvidos. Roberto Dorner, por sua vez, ainda não se manifestou publicamente sobre as acusações, e sua defesa deve ser apresentada nos próximos dias. Até o momento, o prefeito de Sinop continua com sua campanha eleitoral, mas o avanço das investigações pode trazer novos desdobramentos em breve.